Acabei de chegar com o táxi que me deixou aqui, em frente à portaria do prédio, sob teu apartamento.
Minhas malas eu as deixei no hotel, pois antes de tudo eu deveria vir aqui te ver.
O porteiro me disse: Senhor! Pode subir!
Agora estou aqui diante da tua porta a espera de ver-te aparecer.
Aperto a campainha e ouço o trecho de um clássico.
Um barulho de chave girando e tu apareces diante de mim.
Ciao, meu tesouro! Eu te digo. Não me reconheces? Sou Enzo, o teu amor distante!
Eu vim para conhecer-te pessoalmente e ficar contigo por apenas algumas horas.
Não me convidas pra entrar?
Tu permaneces sob o umbral da porta como que aturdida pela minha presença, mas penso que também surpresa e feliz de ver-me ali.
“Sim, querido Enzo, entra, por favor!” tu me dizes e com um gesto de mão me indicas aquele lugar sobre o divã onde tu te sentas todas as vezes que estás triste, amargurada, ou mesmo preocupada.
Que surpresa me fizestes, meu amor! Como vês, estou desarrumada, estou fazendo limpeza na casa, não sabia que...
Queres algo para beber? Estás com sede?
Não, obrigado, minha querida! Obrigado mesmo, eu ficarei apenas por um pouco; queria saber como estavas e como vives aqui sem mim.
Digamos que está tudo bem. Se não fosse por ti que está tão distante. – Me respondes.
Depois, com teu costumeiro sorriso, acrescentas:
Porém, seria melhor dizer que de fato não está nada bem, ou talvez só um pouquinho.
Abaixas os olhos e melancolicamente me respondes ainda:
Não sei meu Enzo, não sei dizer-te com precisão se estou bem verdadeiramente. Sinto que alguma coisa não está certo.
Minha única certeza é que eu sofro muito com a tua ausência, mas se ficares aqui, agora, para mim, não faz sentido. Não! Não! Nada faz sentido.
Tu me olhas e vejo uma lágrima escorrendo na tua face.
Amor! Eu te digo - Tu estás chorando?
E me perguntas tu, meu querido? – me respondes – Tu também não estás sentido esta dor?
Por um segundo eu pensei que me levarias contigo, mas não. Vejo que não será assim.
Vejo-te cobrir o rosto com as mãos.
Agora sou eu quem abaixo os olhos sem saber o que dizer.
Tu ti sentas mais perto de mim e encosta a cabeça no meu ombro; tomas minhas mãos, como para fazer-me entender que queres uma carícia.
Ti abraço fortemente sobre meu coração e por algum tempo ficamos assim, quietos, talvez a sonhar.
Depois tu te levantas, abre um lado da vidraça da janela e movendo as mãos, como se nada tivesse acontecido, dizes:
Enzo, quem era o autor dos versos que me mandastes?
Eu faço de conta que não compreendi.
Sim! – tu dizes ainda – Os versos que me enviastes quarta-feira passada...
Ah! – eu digo – Sim, sim!
Se não me falha a memória os versos são de um tal Enzo...
Tu sorris finalmente. – eu acrescento – Assim que me for possível, tu receberás outros...
Tu esboças um melancólico sorriso e para que eu não perceba que estás chorando ainda, tu te voltas para o outro lado.
Obrigada meu Enzo! – tu me dizes – Tu és um amigo sincero.
Eu olho o relógio e digo:
Querida Clara, eu preciso ir embora. Não esqueças das coisas que te digo e que te escrevo. Saiba sempre que eu te amo e que ti quero bem.
Tu metes teu braço sob o meu e me acompanha até o elevador.
Depois me beijas e me sorris ainda, mas percebo tua tristeza ao ver-me partir.
Assim que a porta se fecha, porém, te escuto cantar:
“Não te esqueças de mim,
A minha vida está ligada a tua.
Eu te amo sempre mais,
O meu amor és tu.
Não te esqueça de mim
A minha vida está ligada a tua
Há sempre um ninho no meu coração pra ti
No te esqueças de mim...”
E enquanto desço reconheço as notas da velha canção napolitana.
Adeus, minha doce Clara, meu amor querido.
Tu entendes agora por que não quero ir até aí? Receio que o nosso encontro possa ter este desfecho melancólico. Tu queres correr o risco?
Eu estarei sempre diante deste computador à espera de ver-te chegar, em sonho, como sempre...