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Contos-->O BAMBU E A MANGUEIRA -- 07/03/2007 - 16:36 (ANTONIO LUIZ MACÊDO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O BAMBU E A MANGUEIRA
Antonio Luiz Macêdo

Aquela noite estava prometendo. O céu escurecera rapidamente. Um vento forte soprava no sentido leste-oeste. Tuca era atingida em cheio. Mangueira de mais de vinte anos, tronco grosso, esgalhada, folhas bonitas e verdes, raízes espalhadas lateralmente... Seu visual era encantador!

Tuí era um bambu desfolhado. Não tinha beleza nenhuma, por isso não causava atração a ninguém. Plantado num canto de muro, representava a imagem do desprezo e da solidão. Só era visto por quem olhasse com bastante atenção.

O tempo continuava a sua preparação. Relâmpagos, trovões, riscos no céu de raios que se desprendiam e adentravam na terra. O vento aumentou a sua velocidade. Pingos grossos caiam no telhado, acompanhados de um barulho estridente e sibilante. Pouco a pouco o toró se foi formando. A chuva caiu por toda a madrugada. No vilarejo próximo a enxurrada arrastava tudo.

Aos primeiros raios da manhã, o susto e a dor no coração. Tuca estava no chão. Não suportara as rajadas do vento devastador. Suas raízes não resistiram à força extraordinária do vendaval.

Tuí, no entanto, estava firme. Parecia até que uma simples neblina passara por aquelas bandas. Nada o abatera. Continuava quietinho no seu canto.

Então comecei a me perguntar: “Por que esta mangueira tão forte não resistiu à chuvarada e o bambu permaneceu em pé?” Neste momento aproximou-se de mim um senhor de idade bastante avançada. Olhou-me bem dentro dos meus olhos, e com ar sereno e calmo, começou a falar. “Sou caseiro da chácara há mais de quarenta anos. Vi Tuca germinar, crescer e se tornar uma mangueira bela e vistosa faz vinte anos. Tuí tem apenas cinco anos. De vez em quando mostra uma folha nova, simples, e continua a sua vidinha reservada e feliz.” A esta altura parou, tirou o lenço do bolso, enxugou duas lágrimas furtivas que escorriam pelos sulcos de sua faca queimada, e olhando-me novamente, continuou: “Meu nome é Alemão. Eu sinto que o senhor tem certa dúvida no momento. Pode perguntar. Não tenha acanhamento”. Meio sem jeito, confirmei: “Eu estava me perguntando por que esta mangueira tão forte caiu, e este bambu tão fraco resistiu à tempestade?” Alemão pigarreou, passou o dorso da mão direita na boca úmida, e prosseguiu. “Se o senhor observar, a Tuca só se preocupou em crescer para os lados, mostrando a sua exuberância nas dezenas de galhos revestidos de folhas verdes e brilhantes. Com tuí foi diferente. Sua motivação foi crescer para cima, para o alto. Ele buscou sempre o céu. Por isso taí balançando ao vento. As raízes de Tuca desenvolveram-se também para os lados, não de uma maneira profunda, quase que superficialmente, o que contribuiu, sobremaneira, para a sua queda. As raízes de Tuí buscaram as profundezas da terra. Embrenharam-se chão adentro, desviando de pedras, rochas e outras raízes, para se fixarem de maneira sólida e consistente. Tuca nasceu sozinha. Viveu isolada de outras mangueiras até poucos instantes atrás. Não tinha quem a sustentasse. Tuí nasceu e cresceu dentro de uma touceira. Ele tinha e tem suportes para sustentá-lo”.

Alemão tomou-me pelo braço. O sol já estava alto. A temperatura, apesar da chuva, não se conservava amena. Dirigimo-nos para o alpendre do casarão, tomamos um copo de água fresca apanhada no pote. Alemão permanecia emocionado. Olhando para Tuca que seria reduzida a cinzas na festa de São João, finalizou: “Estas diferenças que passei para o senhor entre Tuca e Tuí, são fundamentais. Mas a maior de todas elas, a pedra angular que fez com que a mangueira desabasse e o bambu sobrevivesse, reside num fato bem simples e essencial: Tuca não pôde se curvar à força do vento, Tuí curvou-se até o chão. Essa lição eu aprendi com a vida e com os anos. O senhor que viver feliz e suportar os ventos das tempestades que possam surgir no seu caminho?” Acenei com a cabeça que sim. “Pois bem, cresça para o alto; aprofunde os joelhos no chão; viva em comunidade; e, por fim, aprenda a curvar-se”.

Alemão tomou a direção que dava para a casa das ferramentas, e eu fiquei ali mais um pouco, meditando em suas palavras.


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