Ficou a resposta entalada na garganta, esfumada no silêncio da voz presa, no riso ensaiado nos lábios, sequer materializado.
Assim, durante muito tempo, não teve a presença de espírito para confirmar o amor que nutria na sua alma, no seu peito, em todo o seu ser.
E, sem ter certeza daquele amor jamais revelado, mas que ele deixava marcado nas entrelinhas das conversas intermináveis, nos olhares apaixonados que procurava dedicar a ela, terminou por procurar alguém que a quisesse bem de modo explícito, que fizesse serenata à moda antiga, escrevesse poesias, dissesse frases de efeito, manifestasse o desejo de estar sempre junto, de abraçar, de falar de amor revelado e anunciado aos quatro ventos.
E ele presenciava tudo aquilo, mas continuava mudo. Aflito, angustiado, temeroso de perdê-la, mas sem nenhuma iniciativa no sentido de impedir que a construção dos seus sonhos desmoronasse diante dos seus olhos, sem que houvesse um gesto esboçado, um grito de alerta, uma palavra para dar um basta.
E aí, para seus desespero, veio o convite do casamento e, ainda por cima, para que fosse padrinho na cerimônia religiosa.
Foi só naquele instante, com as mãos trêmulas e a voz quase sumida, que rosnou um não.
Não, não não e não. Não vou ser padrinho. Não vou ao casamento. Não posso permitir que ele aconteça.
Ela olhava atônita e incrédula para aquela reação inesperada:
Mas...por que, por que? Balbuciava.
Ele olhou-a de cima para baixo e gritou a todos pulmões:
EU TE AMO!!!