O que porventura terá dado motivo à criação do tão feliz vocábulo «Brasil»? Porque se tratava de arranjar um nome para designar um território de calor intenso - «brasa» - sob um esplêndido céu de «anil»? Depreende-se facilmente, por exemplo, o porquê da criação do termo «Brasília», tal como também no caso de «Portugal», vocábulo motivado pela união soberana das terras «Portus» e «Calle» - que ladeavam o rio Douro perto da foz. Mas, antes, muito antes porque razão já se designavam assim?
Conheço um restaurante, afamado por servir um excelente e abundante cabrito assado, que tem o nome de «Pita Arisca». Porquê? Porque a dona da taverna que anteriormente ali existiu assim foi alcunhada pelo povo. Tratava-se de uma mulher assaz dinâmica, daquelas de pêlo-na-venta, que repelia os galanteios e assédios masculinos à vassourada.
Imagine-se pois, jogando com efeitos factuais do nosso actual quotidiano e por forma faceta, como terão aparecido os dois vocábulos que na base determinaram que hoje em dia existam cerca de 300 milhões de indivíduos que se exprimem em português.
Ainda o primeiro rei de Portugal sequer era plausível gota de água, haverá dois milhares de anos, aonde é hoje a Ribeira portuense, havia naturalmente um cais para as pequenas embarcações, devotadas às diversas fainas, zarparem e atracarem.
Fortíssimo de muscúlos, alto e espadaúdo, quem geria e comandava o movimento de cargas e descargas, era um indivíduo que toda a gente conhecia e chamava por Portus. Ó Portus isto, ó Portus aquilo.
- Aondi bás hoji, ó home?
- Ó mulhere, boi-me ao Portus, bere si amanho peixi...
O Portus transitava frequentemente entre as duas margens e, do lado de lá, entre as idas e vindas, tombou de intensos cios por uma bela moçoila que tinha cabelos até às nádegas e seios como duas douradas meloazinhas a par.
Um dia, ao cair da noitinha, chamou o seu principal ajudante e disse-lhe que tomasse conta atenta sobre as mercadorias depositadas no cais, uma vez que tencionava passar a noite inteira na outra banda.
- Si houbere male, chama por mi.
Em meia-noite de breu, alguns larápios famintos decidiram roubar cestos cheios de milho - ainda não havia sacos e muito menos contentores - e o fiel ajudante, ao dar pela roubalheira em curso, foi de imediato para a borda do rio, de mãos ao redor da boca, chamar em altos brados pelo chefe:
- Portus, Portus, ó Portus, ó Portus...
Na circunstância, estava o Portus em esplêndido recato, provavelmente na «Cova da Onça» em plena «Serra do Pilar», movimentando-se quanto podia para obter a suprema ascensão a Vénus. Ao ouvir o tonitroante e persistente apelo do companheiro, desesperado com a interrupção involuntária, começou em potência vocal a berrar:
- Calle, calle, calle, calle...
O eco dos ditos-gritos, que queriam dizer e significavam «cala-te», acordaram a população que dormia nas imediações das duas margens e não podia entender o que se estava a passar.
- Portus, Portus, ó Portus, ó Portus...
- Calle, calle, calle, calle...
Se não foi porventura assim que apareceram os nomes das localidades Portus e Calle, como é que então foi?!...