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Contos-->O BUBU DE ROSIMÉRI -- 03/10/2007 - 14:23 (ASCHELMINTO da SILVA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O BUBU DE ROSIMÉRI

Lá-lá-lá-lá,
Lá-lá, lá-lá-lá, lá-lá-lá-lá.
Lá-lá-lá-lá,
Lá-lá, lá-lá-lá, lá-lá-lá-lá.
Lá-lá-lá, lá-lá, lá-lá,
Lá-lá-lá.
Thoma e Mia se mudaram recentemente para o Edifício Natas, localizado na zona oeste de Manhattan.
Mia estava grávida de seu primeiro filho, na verdade era uma menininha, conforme as ultrassonografias haviam revelado.
Infelizmente Thomas estava desempregado, mas Mia tinha um faro especial e detectou que naquele prédio as coisas iriam mudar para o casal e sua rebenta que chegava.
Logo fizeram amizade com um casal de velhos, um tanto enxeridos mas até certo ponto, agradáveis.
Tratava-se do Senhor e Senhora Cascavelhos, ou simplesmente Minie e Mickey, como faziam questão de ser chamados.
Mickey gostava de contar vantagem e Minie se metia em tudo.
O tempo passava e Mia já estava ficando enjoada dos dois velhotes, principalmente depois de comer um tal “mousse-au-chocolat” com gosto de giz que Minie, sempre tentando ser gentil, empurou-lhe goela abaixo depois de um jantar não muito saboroso.
Thomas ainda estava desempregado quando Mia deu a luz a Rosiméri, uma menininha branca como a neve, com cabelos negros e lábios vermelhos.
Minie quando viu a criança foi logo soltanto uma das delas:
- Rosiméri? E isso lá é nome? Com essa cara devia se chamar Chapeuzinho Vermelho.
- Não fale asneiras Minie – disse Mikey – Não que está mais para Cinderela?
- Se eu pensasse como vocês – disse Mia já irritada – ela teria pelo menos o nome mais correto, que é Branca de Neve. Agora deixem amamentá-la.
- Amamentá-la? Que coisa mais nojenta. Você vai botar essa pelanca mole na boquinha dessa bonequinha.
Minie quase foi fuzilada pelo olhar assassino de Mia.
- Mickey, vai lá na geladeira e esquente aquele resto de leite de texuga que sua mãe mandou para nós. Em banho-maria hein.
- Que mané leite de texuga coisa nenhuma! Bradou Mia quase batendo a porta na cara dos velhinhos.
Foi quando Thomas chegou e apaziguou os ânimos, fazendo Mia entrar, enquanto Minie ia procurar o leite de texuga. Ela nunca desistia.
O semblante de Thomas não escondia sua preocupação pela difícil situação financeira por que passava sua família, agora ampliada.
No dia seguinte ele tomou o elevador juntamente com o Mickey. Estava meio jururu, quando o velhote o interpelou:
- Bom dia jovem Thomas, como passou a noite?
- Passei acordado.
- A menininha não o deixou dormir?
- Os problemas é que não deixaram. Rosiméri é um anjinho. Coloco o bubu em sua boca e ela embarca nos braços de morfeu.
- Ainda está sem emprego, Thomas?
- Sim.
- Hoje à noite, vá até minha casa e leve o bubu de Rosiméri com você.
- Por quê?
- Não discuta e não diga nada a ninguém. Não deixe sua mulher sentir falta do bubu.
- É meio esquisito...
- Confie em mim. Será uma feliz surpresa pra toda sua família.
- É algum tipo de simpatia? Vou conseguir um emprego?
- Não direi nada até à noite. Não esqueça. É sigiloso.
E Thomas fez conforme solicitado por Mickey.
Quando bateu à porta dos Cascavelhos, depois de passar em casa e sorrateiramente pegar o bubu de Rosiméri, ele deu de cara com Minie cheia de bobs na cabeça.
- Ah! Senhor Thomas, não pode me ver assim. Mickey, Mickey, atenda o Thomas enquanto eu tiro essas coisas.
Mickey veio atendê-lo, vestido num roupão de seda roxa, fumando um cachimbo.
- Trouxe o que lhe pedi?
- Sim, está comigo.
- Ótimo. Entre. Vamos até o escritório.
- Mickey, isso vai demorar? Daqui a pouco a Rosiméri vai dormir e vai dar por falta do bubu.
- É rapidinho.
Minie voltou à sala com uma jarra.
- Aceita um leitinho de texuga, Thomas?
- Não, obrigado.
Entraram no penumbroso escritório. Thomas foi colocado sentado numa poltrona bem no centro da sala.
Mickey pediu-lhe o bubu e o colocou bem no centro de uma mesinha redonda que ficava em frente ao local onde Thomas se assentara.
Alguns incensos foram acesos e logo depois Minie entrava na sala, vestida num logo e esvoaçante vestido roxo.
Com a pouca luz disponível, eles pareciam vestir preto.
Foi quando dois olhos repuxados, como olhos de gato, amarelos, despontaram no outro lado da sala.
Thomas se apavorou. Seu coração quase sai pela boca. Quis levantar-se e ir embora, mas as mãos de Mickey e Minie, como se pesassem uma tonelada, assentadas sobre seus ombros, uma de cada lado, imobilizavam-no.
Os medonhos olhos se aproximaram de Thomas, meio inebriado pelos incensos.
Repentinamente sentiu como se um focinho de cachorro, frio e úmido, cheirasse sua mão, depois seu cangote, enquanto um vulto rodeava-o.
Depois disso, percebeu que aquele ser estranho se apossara do bubu de Rosiméri e passara a chupá-lo, seguido de um murmúrio de Minie, que parecia entoar uma cantiga de ninar.
Thomas desmaiou.
Quando acordou estava num sofá na sala de estar dos Cascavelhos.
- O que houve?
- Você passou pelo ritual “Capetaxupaxupeta”. Tome. O “bubu” já está devidamente enfeitiçado.
- Como é?
- O “bubu de Rosiméri” está enfeitiçado. Basta ela chupar este bubu por treze dias consecutivos, sem lavar, e você será um homem rico e poderá dar à sua família todo o luxo que nem pode imaginar.
- Ela vai ter que chupar um bubu que foi chupado pelo, pelo...
- Pelo capeta. É isso mesmo. Completou Mickey, olhando-o fixamente.
- E se ela não o fizer?
- Não pode! Bradou Minie. Será terrível para todos.
- Não sei se terei coragem de dar um bubu chupado pelo demo para minha filhinha chupar. O que acontecerá com ela?
- Com ela não acontecerá nada, mas se você não der, acontecerá com você.
- O que pode me acontecer.
- Bem, se ela não chupar o bubu, toda noite o capeta vai aparecer em seu quarto e vai chupar sua pica.
- Sim. Intrometeu-se Minie. E depois de treze dias de boquete diabólico, ele vai simplesmente comer seu pau.
- E você vai ficar capado.
Mickey e Minie se lascaram de rir depois de esclarecer o pobre Thomas da enrascada em que se meteu.
- Vamos Thomas, está na hora de ir para casa. Não quero parecer um péssimo anfitrião, mas toda vez que faço esse ritual com alguém eu ganho uma ereção e na minha idade isso é muito valioso. Não posso desperdiçar.
- Nem eu. Disse Minie. Não esqueça Thomas, Rosiméri tem que chupar o bubu por treze dias, sem ser lavado. E quando ela estiver com ele na boca, faça de conta que nada está acontecendo.
- O que vai acontecer?
Os Cascavelhos empurraram o rapaz para fora do seu apartamento e foram transar.
Thomas ficou preocupado.
Olhava para o bubu e lágrimas corriam de seus olhos, lembrando da filhinha tão novinha e entregue ao capeta. Mas ao mesmo tempo colocava a mão no pinto e não conseguia se imaginar sem sua ferramenta de diversão.
Quando chegou em casa, Mia estava com Rosiméri no braço. A menininha chorava desconsolada.
- Ah! O bubu de Rosiméri está com você afinal.
- Não. Eu... Quer dizer... Sim, estava no meu bolso.
- E a menina se acabando de chorar. Me dê aqui esse bubu.
Mia tomou o bubu das mãos de Thomas, que, atônito, viu quando ela pôs o negócio na boca de Rosiméri e ela se calou, chupando o bubu com gana.
“Agora é que fodeu” Pensou Thomas. O que tinha de ser agora já era.
Naquela noite ele não dormiu, ao contrário de sua mulher e sua filha.
Toda hora ele levantava e ia até o berço olhar a menina que não parava de chupar o bubu.
Tinha vontade de tirar aquela chupeta de sua boca, mas se continha.
“Nada vai acontecer. Nada vai acontecer” Pensava ele.
Mas quando apurou a vista sobre Rosiméri, na penumbra do quarto da menina, percebeu algo estranho saindo por baixo das cobertas.
Puxou meio que preocupado, mas desesperou-se quando viu dois pezinhos de cabra onde deveriam estar os pés de sua filha.
Thomas gritou desesperado, acordando mãe e filha.
Carregou Rosiméri que chorava com o susto.
Mia correu para ver o que tinha acontecido.
- Os pés dela, os pés dela são de cabra.
Thomas estava transtornado.
Mia tomou a menina de seus braços, olhando-o com preocupação. Ela inspecionou o corpinho de Rosiméri e não havia nada de anormal.
- Thomas, volte para a cama. Tente dormir. Você está muito estressado por estar desempregado faz tanto tempo. Vou colocar a menina para dormir e volto para lhe dar “aquele” calmante.
Os dias foram passando e Thomas sempre preocupado, vigiando a filhinha.
Os sustos se sucederam.
Ora ele via garras em vez de dedos, presas vampirescas numa boca que nem dente tinha ainda, chifrinhos despontando na testa da criança, um rabinho pontiagudo prolongando-se além do cox.
Aquilo tudo o estava enlouquecendo.
Paralelamente, dois dias depois de Rosiméri ter começado a chupar o bubu, Thomas arranjou um bom emprego.
Aquilo o deixou feliz, mas sua alegria se acabava quando chegava do trabalho e via a filha chupando o bubu. Sua consciência doía.
Por outro lado preocupava-se em não deixar Mia lavar o bubu. Por isso ele sempre se prontificava para higienizar o artefato, garantindo a condição imposta pelos Cascavelhos.
Estes estavam ausentes desde aquele dia fatídico. Estavam viajando.
Até o dia em que Mia percebeu algo irregular.
Rosiméri estava mamando, quando succionou tão forte o peito da mãe que o fez sangrar.
Mia gritou de dor e por pouco não atirou a pequena longe, controlando seus reflexos.
Rosiméri mamou muito mais depois que conseguiu sugar o sangue de sua mãe.
Quando Mia foi observar seu seio no espelho, percebeu que havia marcas de dentes ao redor do mamilo.
Correu para checar a boca de Rosimeri, mas não havia nada de errado.
Thomas focou apavorado quando ouviu de Mia o que havia ocorrido e quando viu o estado em que ficou seu seio.
Até então pensava que aquelas visões eram fruto de sua imaginação, atordoada pelo sentimento de culpa do ato hediondo que praticara com sua própria filha, dar um bubu chupado pelo capeta para a menininha chupar.
Os Cascavelhos já haviam voltado e Thomas foi procurá-los.
- Olá jovem Thomas, que bom revê-lo.
- Olha senhor Mickey, tem algo muito errado acontecendo.
- Entre, meu rapaz. Não quer saber como foi nossa viagem?
- Em outra hora talvez, mas agora eu estou muito preocupado.
- Já está trabalhando, Thomas? Perguntou Minie.
- Sim, estou.
- Que bom. O pacto deu certo.
- Pacto?
- Sente-se Thomas. Vamos conversar.
Mickey contou-lhe que o ritual na verdade era um pacto que Thomas havia feito com o gramunhão.
Como parte daquele pacto, sua filha se habilitava para ser a noiva do capeta quando estivesse na idade e quando um certo Polansky fosse rodar um filme naquele prédio.
Tudo aquilo soava estranho para Thomas, mas ele não lembrava de haver dado a filha ao diabo.
- Quando você deu o bubu lambuzado de baba de diabo para ela chupar, ela passou a ser propriedade do rabudo.
- Mas não fui eu quem deu, foi minha mulher. Ela tomou de minha mão e deu à Rosiméri.
- Isso é ruim. Não é Mickey?
- É e não é. O pacto está valendo, mas a menina vai se transformar numa diabinha ao final dos treze dias.
- O quê!?!
Thomas pulou da poltrona e agarrou Mickey pela gola da camisa.
- Minha filha vai virar uma capetinha, com patas, chifres e rabos?
- Sim Thomas, ela vai. Você não fez as coisas como deveria. Agora se fodeu.
- Quem vai se foder é você, seu velho desgraçado. Vou matar você.
- Não pode fazer isso, meu caro. Eu já estou morto.
- Isso é o que vamos ver.
Thomas saiu do apartamento dos Cascavelhos desesperado.
Encontrou sua mulher no corredor, que ia sair com Rosiméri para passear no quarteirão.
- Thomas, o que houve?
- Leve Rosi para passear, mas me dê esse bubu.
- Ela vai chorar muito. Como sempre.
- Na esquina tem uma farmácia. Compre outro.
- Está bem. Mas você está transtornado. O que está acontecendo?
- Depois te conto.
Thomas deixou sua mulher descer no elevador e subiu rapidamente as escadas que levavam até o teto do edifício.
Lá chegando encontrou Mickey que o interpelou.
- Thomas, o que vai fazer?
- Vou acabar de ver com essa maluquice.
Quando Mia e Rosiméri chegaram à calçada em frente ao prédio encontraram Minie que parecia esperar um táxi.
- Olá Mia, e esta é a pequerrucha da titia. Onde está o bubu?
- Thomas o tirou. Ele anda meio estranho.
- Entendo. Aonde vão? Passear com o “bibi de Rosiméri”?
- Não é lindo Minie? O Thomas comprou este carrinho para ela. Tomou um adiantamento.
No alto do prédio Thomas e Mickey se engalfinhavam.
- Vou jogar esse bubu fora de qualquer jeito. Afirmava Thomas enquanto era agarrado por um raivoso Mickey.
- Seu tolo, não vê que não tem mais solução. Você errou e seu erro não tem concerto.
- Nem que eu tenha que morrer para concertar.
- Pois então morra! Mickey empurrou Thomas e este o agarrou pela camisa, levando-o junto numa queda de vinte andares pela lateral do prédio.
Os dois se estatelaram quase em frente à Minie, Mia e Rosiméri.
A velhota e a mãe de Rosiméri ficaram sem palavras quando viram aquela carnificina.
Estáticas, catatônicas, sabe lá o que mais.
Minie quebrou o gelo daquela hora funesta.
- Bem, acho que você agora vai ser a chefe da família. E eu, bem... Não tenho mesmo o que fazer, posso ajudá-la como a “babá de Rosiméri”. E também sei cozinhar muito bem. Sei fazer um “bobó”, mas não é de Rosiméri, é de camarão.
As duas se afastaram da cena da tragédia, chorosas, mas sempre avante.
Minie cantarolava uma cantiga de ninar:
Lá-lá-lá-lá,
Lá-lá, lá-lá-lá, lá-lá-lá-lá.
Lá-lá-lá-lá,
Lá-lá, lá-lá-lá, lá-lá-lá-lá.
Lá-lá-lá, lá-lá, lá-lá,
Lá-lá-lá.


FIM


Paródia para O BEBÊ DE ROSEMARY
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