Rio dos Véus não mudou quando aquele fenômeno dos céus se fez ausente. Os jovens enamorados continuaram enamorando, as nuvens continuaram a se ajuntar para o cândido banho esporádico que a cidade gostava. As luzes artificiais continuaram a acender no prenúncio do crepúsculo. Em suma, ninguém apercebeu-se do apenas repleto céu das estrelas. A vida continuava incessante, eterna, incapaz de sentir uma dor abissal por uma perda praticamente irreparável.
Antônio Laminar foi o único habitante do vasto universo que viu (ou não viu) o descalabro dos céus. Escondeu-se na sombra de si mesmo, torturado pelo silêncio e pela inverossímil ausência. Na Taberna de Virgílio, já não ficava mais bêbado do tanto que bebia. De tão consciente e atormentado, alimentava um ódio visceral pelas faustas estrelas, acreditava que elas riam com ironia ácida. As trevas o consumiam, mas alimentavam um sentimento cada vez mais profundo e virginal, tão mais avassalador e completo do que uma simples devoção, tão mais tocante do que um complexo devaneio.