PASSEAR ENTRE FANTASMAS
PARA ME LIBERTAR DAS MÚMIASTerça-feira, 18 de Dezembro, após o jantar, decidi que não saíria para fruir o meu habitual pedacinho de noite. O tempo estava frio e chuvoso, nada convidativo para uma ida-e-volta ao café. Deitei-me, liguei o televisor que tenho ao lado do leito e, sob os sabores de um cigarrinho, dispus-me a desfolhar o JN para mais atenta releitura sobre os assuntos que pela manhã, em breve passagem, me tinham ficado presos no raciocínio.
No televisor, uma espécie de moina nacional decorria sob a evocação de ajudar velhinhos inválidos nesta tão bonita época natalícia. Não sei como, talvez induzido pela imagem do Solnado num dos spots que já havia passado, a «mesma-coisa» da longínqua «Pirâmide» (escândalo moinante de há décadas) surgiu-me na mente.
Entretanto, as grandes figuras televisivas do momento, a Catarina Furtado e o Diogo Infante, depois de anunciarem e mostrarem o montante da moina electrónica em decurso, cerca de 54 mil euros (e pretendiam apenas 100 mil), estabeleciam ligação com Londres onde estava o Cristiano Ronaldo, já rectificadíssimo do médio erecto entre os indicador e anelar em vénia pública, para deitar palavra e oferecer 10 preciosos livros autografados, algo de muita valia, segundo o parecer do Diogo.
Se bem me explico, sem saber como, minha espinha dorsal tornou-se numa abrupta mola. Senti-me impelido para fora da cama, desliguei o televisor até quase este tombar da mesinha, vesti-me aos tropeções e lancei-me para a porta da rua. Sequer a chuva impediu de embrehar-me na noite.
Oh... Que alívio.. Passear entre fantasmas para me libertar das múmias. António Torre da Guia |