Todo dia, lá pelas 8 e meia da manhã, dona Sonia chega na
esquina da Franco da Rocha com a Homem de Melo e começa a
trabalhar.
Estica uma cordinha entre um poste e um velho hidrante, abre
uma cadeirinha desmontável e instala um guarda-sol que chama
a atenção pelas cores escandalosas.
Da cestinha vão saindo as mercadorias:
paninhos tricotados, toalhinhas de mesa, jogos americanos com
bordas de crochê.
Os consumidores não demoram a chegar:
são as senhoras de Perdizes que deixaram um bordadinho para
consertar, vão conhecer as novidades ou simplesmente vão
rever as vizinhas.
O papo rola solto, trocam-se informações sobre os novos pontos de
tricô e crochê, e sempre pinga um dinheirinho que vai direto para
o avental de dona Sonia.
Lá pelas quatro e meia começa a Operação Desmonte:
dona Sonia recolhe o dinheiro do avental (a tesouraria),
os paninhos são recolhidos do varal e voltam para a cestinha (o
estoque), desmonta-se a cadeirinha (o escritório) e se fecha o
guarda-sol (o departamento de marketing).
Dona Sônia pega o seu Mercedes (Jardim Helga-Praça do Patriarca)
e antes das seis da tarde já está em casa, em Carapicuíba.
Pode ser que a dona Sônia não seja tão rica e famosa como uma
Volkswagen, mas quando o assunto é controle de custos, ninguém
ganha dela.