O MORTO VELAVA A SI MESMO, OS GRILOS NAS ÁRVORES PRÓXIMAS, REZAVAM EM CORO MÚLTIPLO E AS FORMIGAS EM SILÊNCIO, CAMINHAVAM AO LONGO DO SEU CORPO, JÁ SEGUINDO O CORTEJO FÚNEBRE. HAVIA POUCO SOL E AS NUVENS, COBRIAM DE BRANCO, O AZUL DO CÉU. A CHAMA DA VELA DANÇAVA AO SABOR DO VENTO, O CORPO IMÓVEL DO CADÁVER PERPETUAVA A PAZ, E EU SEM CONSTRANGIMENTO, SOZINHO, APROXIMEI DO FALECIDO E REVIVI A MINHA VIDA.
GRAÇAS A DEUS, EU ESTOU VIVO, COMO AS FLORES DO JARDIM MAIS PERTO E NÃO COMO AS FLORES QUE COBREM O CAIXÃO.
AINDA BEM QUE EU NÃO TENHO LIGAÇÕES DE GRANDE AFETO COM O DEFUNTO. EU NÃO TENHO ESTÓRIAS PARA REVIVER, NADA SEI SOBRE O SEU PASSADO, NUNCA SORRIMOS UM PARA O OUTRO, NUNCA TIVEMOS EMOÇÕES COMPARTILHADAS E FORAM POUCAS AS VEZES QUE OS NOSSOS CORAÇÕES BATERAM AO SOM DO MESMO RITMO E MESMO ASSIM EU NÃO CONSIGO DEIXA-LO SÓ. FECHO-LHE OS OLHOS QUE TEIMAM EM PERMANECEREM ABERTOS, INTERROMPO A CAMINHADA DAS FORMIGAS PÔR SOBRE O SEU ROSTO E FICO ESPERANDO QUE DE UMA HORA PARA OUTRA, REINICIE OS SEUS MOVIMENTOS RESPIRATÓRIOS E EU NOVAMENTE PRESENCIE O MILAGRE DA VIDA.
A MARAVILHA DA VIDA NÃO VEM COMO TAMBÉM NÃO VEM MAIS NINGUÉM PARA VELAR ESTE CORPO. SÓ, OS GRILOS CONTINUAM A ORAÇÃO INTERRUPTAMENTE. AS NUVENS DO CÉU TORNAM-SE NEGRAS ENQUANTO EU E O MORTO FICAMOS AQUI, PARADOS, ESPERANDO A HORA DO ENTERRO.