Era uma vez um bem-te-vi que odiava ter de voar para o norte todo santo inverno.
Certa vez ficou tão revoltado com a idéia de abandonar seu assaz acolhedor cantinho que decidiu adiar a partida até o último segundo. O teimoso passarinho foi se despedindo carinhosamente de seus amigos e parentes que alçavam vôo em busca do calor setentrional. Mesmo depois de sentir seu gorjeio ecoar no vazio , o bem-te-vi ainda permaneceu por mais seis semanas em seu lar tão querido.
Finalmente o tempo se tornou tão assustadoramente frio, que ele não conseguiu adiar mais a viagem . Quando partiu - iniciando sua longa peregrinação - , o viajante solitário deparou-se com uma violenta tempestade, que logo se transformou em geada, deixando suas asas cobertas de gelo.
Exauridas todas suas forças, foi perdendo altura e caiu feito um floco de neve bem no centro de um estábulo. No exato momento em que esboçava seu derradeiro arquejo , um cavalo saiu da estrebaria e , virando sua anca em sentido à atmosfera funesta que pairava sobre o pobre pássaro, recobriu este último de merda. A princípio o bem-te-vi não pensou em nada senão como seu destino tinha reservado um fim tão desolador e vulgar a ele .Porém , quando aquela massa fecal começou a penetrar em suas penas, a ave recomeçou a voltar ao seu corpo e a respirar , visto que também havia espaço para isso.
Subitamente a pequena criatura sentiu-se feliz e começou a cantar .Naquele instante um gato magro, voraz e esfomeado entrou no estábulo e, ouvindo aquele gorjeio, começou a remexer o montinho cantante . O felino tirou a sorte grande e, ao menos aquela noite, não teria mais fome.
Bom, vejamos o que pode ser colhido de positivo nesta estória:
1º Nem sempre aquele que lhe põe na merda é seu inimigo;
2º Quem está na merda não canta;
3º Nem sempre aquele que tira você da merda é seu amigo.
PS. Este conto foi baseado numa estória que ouvi quando era muito pequeno.