O tempo correu e quando Aline se deu por conta, seu bebê já tinha quatro anos de idade.
Fazendo uma retrospectiva de vida ela constatou que se afastara demais do seu campo de trabalho profissional. Urgia retornar. A primeira providência seria em relação ao menino. Quem cuidaria de Lucas?
Na manhã seguinte, Aline começou a visitar escolinhas, procurando uma que mais se adequasse às suas exigências. Não foi fácil! Mas, também não foi impossível.
Depois de escolhida a escolinha, a difícil tarefa da procura de emprego. Aline gastou tempo e paciência enviando currículos, dando telefonemas e participando de entrevistas. Finalmente conseguiu uma vaga num escritório de advocacia. Turno da manhã. Aline exultou! Lucas na escola e ela no trabalho, depois, o resto do dia para ficarem juntos.
Primeiro dia de aula. Aline, nervosa, levou o menino até a porta da sala. Outros pais também acompanhavam os filhos. Após a professora receber os alunos, orientou os pais que não fossem embora logo, que aguardassem alguns minutos, pois as crianças poderiam estranhar o novo ambiente. Na verdade, algumas crianças nem entraram na salinha de brinquedos. Lucas despediu-se da mãe e corajosamente, sem olhar pra trás, deixou-se conduzir pela professora. Aline, disfarçadamente, enxugou as lágrimas. Lá se ia seu menino para o mundo! Quanto parto de Lucas ainda teria que enfrentar?
No corredor de paredes coloridas e aplicações de flores e bichinhos, havia um banco, comprido, onde os pais foram sentando, conforme iam se despedindo dos filhos. Às vezes a porta da sala se abria e a professora chamava o pai ou a mãe de algum dos alunos. Alguns pais já haviam ido embora, outros permaneciam, silenciosos, ou fingindo uma leitura. Outros falavam ao celular.
Passou a manhã, sem que Aline fosse chamada. E ela, a manhã inteira, no colégio. Telefonou para o escritório, explicou que era o primeiro dia de escola do filho e que iria no dia seguinte. No entanto, passou-se uma semana e Aline continuava no colégio do filho, sem arredar pé. Na segunda semana, ainda permanecia uma meia dúzia de pais e na terceira semana, apenas Aline. Não que Lucas exigisse a presença da mãe. A mãe é que não conseguia ir embora.
Numa manhã de chuva, Aline encolhida no banco do corredor, percebeu a diretora aproximar-se dela. Cumprimentou-a, trocaram algumas palavras e ela entregou à Aline uma revista da escola, com textos e fotos das dependências e dos alunos.
Exatamente no meio da revista, Aline encontrou uma folha de jornal, amarelada pelo tempo, dobrada. Curiosa, abriu a folha e leu uma crônica de um escritor famoso, também pai, que discorre sobre a dificuldade dos pais se separarem dos filhos, quando estes vão para a escola. A adaptação não seria apenas das crianças, mas, também dos pais. É como se fossem submetidos a uma prova.
Com graça, o autor descreve a fila de pais, que aos poucos vai diminuindo, até ficar somente um. Aline sente-se a própria. Envergonhada, levanta-se e vai embora. Meia hora antes do horário de saída, ela já está na porta da salinha, chamando por Lucas e ele com a maior candura lhe diz: _ Mãe, ainda não acabou a aula!