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Contos-->Uma família do interior -- 25/04/2008 - 00:38 (Paulo Marcio Bernardo da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Uma família do interior

Lá no interior de Minas Gerais, no logo ali de Guidoval e Sapé de Ubá, perto de Guiricema, morava um casal que vivia em uma casa de poucos e espaçosos cômodos. A casa não era forrada, mas tinha paredes altas que evitavam a quentura dos dias de verão. Na sala cimentada com mistura de vermelhão, pintada de cal branca, mostrava nas paredes a poeira amarelada que entrava pela janela e a porta que dava para o terreiro. Havia um sofá velho, duas poltronas com as almofadas furadas, uma cômoda antiga, dois quadros ovais e envidraçados com retratos dos seus pais, uma Tv muito usada, daquelas sem controle remoto e comprada em uma feira por preço de ocasião. Em cima de uma outra mesinha, uma toalhinha bordada amparava a imagem de Sant’Ana com um castiçal de vidro e o que sobrou de uma vela acendida. O quarto ao lado da sala pertencia aos donos da casa. Nesse, uma cama de casal com colchão de palha e capim, coberta com uma colcha de retalhos e dois travesseiros grandes, feitos de pena, forrados com fronhas de um tecido barato. Um armário de duas portas já bem surrado e remendado guardava as roupas do casal. De um lado da cama, uma mesa de cabeceira feita sem gavetas, mostrava um paninho bordado com a Bíblia Sagrada aberta na página do Salmo trinta e três. No outro canto, uma cadeira simples e em cima um rádio de pilhas antigo e grande. O outro quarto era próximo à cozinha e ao banheiro. Grande e dividido por uma meia parede feita por tábuas e pintada de cal azul claro. De um lado ficavam as meninas e do outro os meninos. No quarto dos meninos, três camas sem cabeceira e apenas um armário para guardar as roupas da filharada. No quarto das meninas, mais quatro camas e algumas bonecas, todas faltando um pedaço. Apenas uma lâmpada de quarenta wats servia para clarear os dois ambientes. A cozinha era grande, em terra batida. Em cima do fogão de lenha artesanal, três panelas, sendo duas grandes de ferro e uma de alumínio. Uma prateleira em toda a parede lateral guardava as outras panelas; todas muito limpas, e outros utensílios. Os pratos de alumínio guardados em um aparador junto com alguns copos de vidro e canecas de louça. Na despensa, um saco pelo meio de feijão, um quase completo de arroz e outro contendo fubá. Na prateleira outros mantimentos, como farinha, sal, açúcar mascavo, cebola e alguns outros temperos. Dependurada em um varal uma boa manta de carne de sol e no chão uma lata de vinte litros guardava a banha e a carne de porco. O banheiro era rudimentar. Um vaso sanitário antigo, uma pia, um espelho retangular dos pequenos e um chuveiro quente com água esquentada pela serpentina do fogão.

No quintal havia um pequeno pomar com algumas mangueiras carlotinha, um pé de limão verdadeiro, dois de mexerica e uma laranjeira. Alguns canteiros plantados com cenoura, jiló, tomate e algumas verduras. Na parte mais alta do terreno, um milharal não muito grande, mas bastante produtivo. Mais afastado da casa e perto de um riacho, um curral com duas vacas leiteiras, um chiqueiro com uma porca prenha, uma leitoa crescida e um porco. Ao lado, um galinheiro feito de bambu com algumas galinhas polacas e um galo jovem. Uma nascente próxima fornecia a boa água necessária para abastecer a casa e regar as plantas. O riacho complementava as necessidades de água para a higiene e o beber dos animais.

Assim viviam a família do casal Toninho tropeiro e Dona Filinha, assim conhecida por ser a filha mais nova de Dona Tereza parteira.

Seu Toninho pouco parava em casa, pois o sustento de sua pequena propriedade saia do trabalho como tropeiro e da venda de fumo de rolo que comprava na região e vendia em suas viagens levando burros e mulas. Dona Filinha cuidava da filharada e também do pequeno sitio, ajudada por Ana, sua filha mais velha que aos quinze anos já se embandeirava para o lado de Cláudio, filho de um fazendeiro de Cataguases. Abaixo de Ana com treze anos vinha Isaura, pois nascera na época da novela de sucesso. João Alberto tinha doze anos, Luciano, onze; Helana com dez, Antonio Cláudio com nove anos e a mais novinha era Laura com apenas dois aninhos.

Três, dos sete filhos, estudavam em uma escola paroquial que ficava dois quilômetros de distância da casa da família. Ana, entretanto, já estava matriculada na primeira série do segundo grau e tinha que ir até a cidade para poder freqüentar o colégio. Laurinha a caçula, ainda muito pequena não estava na escola.

Apesar das dificuldades em viver em uma região rural a família vivia com fartura e o conforto que lhes era permitido.

Os anos se passaram. Toninho já com uma idade mais avançada não conseguia nem precisava mais garantir o sustento da família, pois o progresso acabou com a lida de tropas e também sair para vender fumo de rolo era prejuízo. Dona Flilinha também envelheceu e agora cuida dos netos, filhos de João Alberto e Maria José que se casaram e continuaram a viver na propriedade. Os outros filhos e filhas se formaram e foram morar em outras cidades, menos João Afonso que concluiu apenas o primeiro grau e se tornou caminhoneiro.

Ana casou com o Cláudio, filho do fazendeiro de Cataguases após ter se formado em veterinária. O marido herdou parte da fazenda de seu pai e também se transformou em novo fazendeiro. Isaura também se formou e hoje é casada e professora universitária de Educação física na cidade de Juiz de Fora. Luciano é advogado e está trabalhando em uma empresa multinacional na cidade de São Paulo, mas continua solteiro. Helana está noiva com data marcada para casar, Ela conseguiu se formar em medicina na Faculdade de Vassouras e agora exerce a profissão em Belo Horizonte. Antonio Cláudio é formado em Administração de empresas, mas tem um comércio atacadista em Uberlândia; está casado e é pai de duas meninas. Laurinha estuda Ciências Sociais em Juiz de Fora e mora com a irmã Isaura.

Seu Toninho e Dona Filinha, apesar das dificuldades naturais de um casal quase analfabeto e que precisaram vencer muitos desafios, são exemplos para outras tantas famílias que se desagregam ou que não conseguem transferir para os filhos a importância da educação e da cultura. Pobres e morando em uma região rural o casal hoje vive uma vida feliz sabendo que os seus esforços foram reconhecidos pelos seus sete filhos que agora usufruem os benefícios de uma vida familiar simples, mas guiadas pelas mãos de Deus.

Alem dos dias festivos, a família faz questão de se reunir no dia 26 de Julho de cada ano na Igreja de Sant’Ana para juntos assistir uma missa e agradecer as vitórias e as Graças alcançadas.

Essa é apenas uma entre algumas histórias bem sucedidas, raras de acontecer, mas que nos mostram que são possíveis de existir. Quando existe o carinho, o amor e a fé... Tudo é possível.

24/04/2008
Paulo M.Bernardo
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