Caminhava eu pelo deserto há horas, quando subitamente bem no fim do distante horizonte avistei uma estranha procissão. Havia um cavalo, três elefantes (sendo um com duas cabeças) e uma formosa mulher despida que segurava com orgulho os volumosos seios. A curiosa procissão demorou a passar em minha frente. Mais próxima, percebi que não era apenas curiosa – era absurda! Os quatro animais eram gigantes, tão altos quanto o prédio dos meus sonhos da Companhia em Taitara. O cavalo e os elefantes tinham pernas longilíneas como as de um mosquito. O segundo elefante ostentava nas costas um enorme pedestal onde estava a mulher que exibia orgulhosa os seios. Em meio às pernas altíssimas, voava uma espécie de anjo. Tinha asas, mas não tinha face. O cavalo estava muito agitado, empinava várias vezes e falava com uma voz parecida com um trovão. “Todo mundo tem direito a sua loucura”. – Para onde vão? Perguntei. “Vamos para Port Lligat, a casa de meu pai”.
A procissão se foi e adormeci profundamente. Sonhei com o escritório, papéis, burocracia, salário e a Companhia. Prédio rodeado por incontáveis muros – espionada por implacáveis urubus espiões dizendo em sussurros: “Voe... Voe... Voe...”.
Uma homenagem a Salvador Dali e a José Jacintho Veiga.