Estacionei meu carro bem próximo da praia. Embora estivesse numa cidade turística, não era temporada de férias, portanto, o silêncio imperava naquele final de tarde.
Sem sair do carro, fiquei observando o mar. Daquele local eu tinha uma visão privilegiada. Podia ver a praia em toda sua extensão, inclusive as pedras esculturais que a delimitavam nas duas extremidades. Havia algumas poucas barracas espalhadas, praticamente vazias, não devido ao horário, mas, realmente, em virtude da época do ano: o inverno estava quase terminando, embora tivesse sido uma estação em que o frio não se fizera presente com intensidade.
Contemplei o sol que se punha no horizonte. O céu avermelhado coloria a límpida água esverdeada daquele mar que transmitia uma paz infinda. O som das ondas, quebrando suavemente, parecia uma canção tocada pelos deuses.
Encantada com a magia daquele momento, onde a minha solidão não parecia existir diante de tão maravilhoso cenário, fechei os olhos e deixei meus pensamentos mergulharem naquelas águas.
Não sei se adormeci, entrei em transe ou apenas deixei a imaginação voar livremente, mas o que aconteceu na hora que se seguiu foi uma verdadeira viagem.
Eu andava livremente sobre as águas do oceano. Uma veste longa e os pés descalços. Não sentia a roupa molhar-se mas sabia que pisava sobre as águas, caminhando em direção ao horizonte. Algumas cenas mágicas eram presenciadas por mim, embora eu não entendesse quase nada do que via. De repente, eu já não sabia aonde estava, mas tinha a certeza de que para chegar ali eu precisei atravessar um longo percurso sobre o mar. Sentia uma sensação boa, de paz e tranqüilidade. Via beleza em tudo que me rodeava. Sentia um perfume sem igual que me embriagava. Via cores em tudo à minha volta. Flores, sorrisos e o arco-íris que, nesse momento, estava tão próximo de mim. Eu me sentia especialmente feliz.
Aquele lugar não tinha espaço para tristezas, preocupações, problemas, doenças, maldade, inveja, miséria. A tonalidade clara de todas as cores que o compunham, demonstrava a serenidade de tudo. Vivia um sonho e fazia parte dele.
O barulho do motor de um carro que se aproximava fez com que eu voltasse à realidade. Tive a impressão de estar acordando, mas com a certeza de que não tinha dormido.
Talvez, envolvida pelo momento ímpar, permiti ao meu coração que divagasse fazendo suposições e sentindo a ternura e a calma que exalaria da minha alma se possível fosse fazer uma viagem como aquela.
Olhei o relógio. Ficara ali por quase duas horas. A noite já chegara. Com um sorriso e me sentindo particularmente feliz, liguei o carro e peguei a estrada de volta para casa...