Trazia sempre um sorriso nos lábios. Sorria tanto, que ninguém conseguia prestar atenção na tristeza que existia em seus olhos. Jamais deixou transparecer, onde quer que estivesse, alguma dor, dúvida, sofrimento, decepção ou amargura. Todos mostravam alegria ao vê-la. Diziam que as festas só começavam após a sua chegada.
Ela era assim com todos: entre os amigos, no trabalho, na família. Tinha sempre uma palavra de conforto ou de esperança. Tinha sempre o conselho buscado, a solução bem pensada. Era amiga, cúmplice, companheira. A companhia perfeita para qualquer situação.
Ela gostava de ser assim. Era gratificante receber os carinhos, os agradecimentos e a alegria de todos que a rodeavam.
Mas, muitas vezes, sua alma chorava. Ela era humana como todas as pessoas do seu convívio. Tinha problemas, indecisões, ânsias, desejos, necessidades que não conseguia suprir. Sentia solidão. Nunca estivera só, fisicamente. Mas um vazio sempre se fez existir em seu coração. Não tinha coragem de buscar ajuda, de abrir-se com algum amigo, de esvaziar sua alma partilhando o que sentia. Acreditava que não deveria levar preocupação a todos aqueles que lhe queriam bem. Temia até não ser acreditada, porque todos a consideravam muito forte, determinada, feliz.
Ouviu tantas e tantas vezes alguém lhe dizendo que queria estar em seu lugar, para ter a possibilidade de guardar sempre um sorriso no rosto, a simpatia que lhe era característica.
Certa vez, encontrava-se num desespero tamanho, que decidiu mostrar-se exatamente como era, para uma pessoa que julgava que a compreenderia.
Existia entre ambos uma afinidade muito grande, um enternecimento ímpar, uma identificação incomensurável. Mais do que isso, existia amor entre eles.
Mas, havia um problema: ela conhecia completamente o interior da outra pessoa, pois, diferentemente dela, ele possuía a capacidade de se revelar, mostrando todos os seus defeitos, traumas, dúvidas.
Ela sabia o quanto seria difícil fazê-lo crer que, tal como ele, ela se sentia uma fraca, pois não possuía coragem de mostrar-se como realmente era, apontando sua solidão interna, seu sofrimento jamais narrado.
Mesmo assim, acreditou que o vínculo existente entre ambos faria com que ele a entendesse e a ajudasse a superar tudo.
Ela errou. Não o conhecia tanto quanto supunha. Abriu seu coração, entregou-se de corpo e alma. Ele ouviu atento. Não a entendeu. Despediu-se e nunca mais apareceu.