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Contos-->VIAJANTE DE -- 25/03/2001 - 21:27 (Paulo Sézio de Carvalho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Viajante de
Paulo Sézio de Carvalho

Abro as cortinas do tempo, saudando a mãe-Terra, assim que a escuridão da consciência se desvanece, dando lugar a um novo dia, me permitindo existir.
Sou ainda um viajante, que já foi tantos...
No rítmo natural da vida, chego com o objetivo de buscar compreensão e diante de tantas opções, curvo ao meu amado mestre interno com a consciência de um peregrino sedendo de verdades.
As lições chegam com as lembranças.
Eu vou agora por caminhos que já estive antes. Vou só, e, tal qual as curvas de um rio que delineia vales, sei que estarei sendo indicado quanto aos que quero no fundo trilhar: aqueles de volta ao Grande Ventre da Vida.
E serpenteando em meio as rochas de pré-conceitos ainda existentes em mim, tentarei seguir.
Percebo que a gostosa força ardente, já começa a se posicionar, no instante que me ponho em marcha. Isso me dá uma idéia bem mais simpática e aproximada de como a vida se manifesta.
Abaixo meus olhos, abro a imaginação e presencio uma folha de papel gotejada por pingos de tintas, se misturando entre si. Sou a folha e os pingos e assim penso que é a vida dos viajantes.
Se hoje eu consigo abrir as cortinas do tempo, saudando a vida, é por que ainda necessito de espaço para percorrer e necessito agradecer. Essa obrigação eu tenho, tanto com o passado quanto com o presente, que se fundem em lições...
...e vou sendo.
Sendo viajante de todos os caminhos, todas as montanhas, todos os sonhos, todos os tempos, todos os "eus".
Viajei, viajei por tantos espaços e encontrei no íntimo de cada um deles, um fragmento dessa coisa que sou.
As jornadas foram cansativas, algumas carregadas de fortes emoções, pois as novidades nem sempre eram imediatamente assimiladas.
Fôra preciso certo tempo para entender essa similaridade entre o viver e o viajar.
Se lembro bem, posso dividir meus caminhos em dois momentos: Um de busca, outro de aprendizado.
A busca fôra aquele período que queria encontrar, mas não assimilar.
O aprendizado fôra aquele em que desisti desse intento.
Considerava até aquele momento que viajar seria transitar de...para.
Qual não foi a minha surpresa quando muitas dessas "idas" nem sequer sairam do lugar: Fôra o tempo quem viajara, não eu.
Ah! E como perdi em mim mapas que revelavam saídas necessárias, permitindo que o vício da viagem sem rumo tomasse fôlego.
A constante inconstancia estava até naquele momento, maior do que a própria decisão de aquietar-se.
Aquietar-se estava significando conter o pulsar latente do viajante. Mas como?.
Em todos os caminhos, todas as montanhas que pude experimentar, esse vigor exalante de realidades encontradas, conseguiram embriagar minhas veias a ponto de não mais deter essa marcha febril.
Para suster toda essa estrutura inquieta, estive tentando dia após dia, esperar a tranquilidade vir. Os espaços ou tempos já percorridos me mostraram o quanto era ansioso pela tranquilidade, felicidade e pelo o amor.
Chegava a ser antagônico, uma vez que procurava tais pérolas de uma forma tão obstinada quanto numa luta por um troféu.
Nessas viagens conheci pessoas diferentes de mim. Eram mais centradas. Seriam viajeiros de outros tempos, ou outros tempos de viagens?
Agora, em novas compreensões, vislumbro a vida em sua forma e jeito de ser, como um torvelinho de ondas em diversas frequências e viajar nelas é uma questão de viver.
Hoje as viagens ainda são necessárias porém, amenas. E se termino uma, outra já surge.
Agora mesmo estou trilhando.
Meus apetrechos de viagens, ainda são mínimos e só necessito de mais uma noite para tomar o rumo.
Descanso... e vou, como viajante de...
...Deus sabe o que me espera.


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