Certa feita, cansado talvez de minha pequenez, um outro buscador depositou um precioso tesouro nessas mãos e se fôra, como a me dizer: O caminho está aberto.
Sua harmoniosa personalidade partiu, como chegou, e o tesouro guardo até hoje.
No princípio não entendi para que servia e procurei um sábio índio. A natureza lhe dotara do senso natural de percepção e com certeza me ajudaria.
Para a grande maioria de nossos irmãos índios, essa percepção é possível porque estão cientes que a consciência pessoal está unida com a consciência da Grande Força Onipresente.
Depois de me deixar sentado por um bom tempo, com uma grande intenção nessa espera, ele se aproxima, sem sorriso, sem tristeza e erguendo-se em neutralidade, tomou um graveto e riscou no chão uma estrela com 8 pontas, desenhadas em uma forma nada geométrica, bem parecida com aquela que estava no tesouro que guardei.
A seguir perguntou-me:
- Você conhece?
- Sim. É o mesmo desenho que está nisso que lhe mostrei.
- Isso que me acaba de responder é um reconhecimento. Você o reconhece. O que estou lhe perguntando se conhece?
Aprendendo que todas as vezes que a pergunta me é devolvida é um sinal de que minha resposta ou não fôra satisfatória ou que não era nada do que fôra proposto, tratei logo de raciocionar com maior propriedade.
- Não, não o conheço.
- E se olhar para o céu. Assemelha-se agora a alguma coisa?
- O sol - respondi devolvendo a pergunta.
- Muito mais do que o sol.
- Acho que já vi em algum outro lugar também - tentei forçar a mente.
- Lhe digo que você o tem. Assim como tantos outros.
- Tenho? - fiquei surpreso.
Ele não respondeu
- Como? - Tentei outra saída. Nada. Ele foi embora. Não sem antes me dizer:
- Um pedaço de sua jornada começou agora. Estude um pouco sobre o Grande Mistério e dê a importância devida a tudo que já recebestes dos povos por onde tu andastes. Seu caminho está aberto.
A que se referia? Fiquei sem saber. Voltei com a interrogação e com o símbolo para entender.
Num voto pelo silêncio, guardei meu tesouro, sentei em um pequeno montículo de grama e comecei a concentrar o pensamento em todo aquele ambiente.
Deixe-me levar nas asas da imaginação e sublimei acima das próprias limitações, levantando vôo sobre tudo, deixando os olhos da mente conduzir-me por inteiro.
Assim, naquele instante, fui visitando muitas expressões da natureza, saboreando com a percepção, tudo que pudesse, desse pedaço do universo.
Senti uma plena conexão.
Segui em frente e a tranquilidade tomou conta de meu íntimo e me reconheci, através das perguntas, devaneios, momentos de angústia, paz e serenidade, que se formavam à volta.
Nessa consciência as sensações foram passadas a limpo e a todo instante novas imagens e símbolos, começaram a se relacionarem.
Tive naquele momento uma necessidade de abandonar todo tipo de segurança que reuni, para cair na leveza da vida como um pássaro, do cimo de uma montanha e observar a movimentação rítmica daquelas formações arquetípicas.
Fiquei por ali um bom tempo. Tinha mil respostas e nenhuma especificamente.
Noutro instante, a imagem daquele desenho voltara. Onde será que eu o observara? Só poderia ser nos desenhos que um amigo me dera anos atrás.
Tá, mas e dai?
Era uma representação, um desenho, tão antigo quanto comum. Um costume dos nossos ancestrais, um motivo pictórico das cordilheiras.
Olhei atentamente alguns arquivos e vi que estava certo.
A voz interna confirmara: " Nenhum movimento, nenhum gesto, nenhum símbolo pode passar despercebido àquele que quer entender a linguagem universal.
No universo, tudo se expressa: é a linguagem da ação e do movimento.
Os símbolos que trazemos para expressar ações, são identidades de cada um. Eles se interagem como os instrumentos de uma orquestra, são potencias, uma vez que representam realidades. Reveja os desenhos".
Voltei hávido para as formas.
Teria que entendê-las.
A expressividade dessas pictografias estavam relacionadas diretamente com a figura do Grande Pai, tendo como representante visível, eu, sem falsa modéstia.
O fato de ser representante do todo pode ser explicado pela própria grandeza do Universo em questão e sua notória importância na evolução da vida. Parece abstrato, mas há algo além disso?
Vim a saber que sim.
Minhas descobertas se expressavam por formas como essas, pintadas ou incisas em cerâmicas. Eram eu de alguma forma. Eu existia nelas.
Que viagem! Exclamei em meu íntimo
Acho que agora sim, me tornei um viajante.
Viajante.
Viajante sem nau, sem destino, sem fronteiras, sem cordilheiras.
Viajante dessa icógnita que sou.
O que farei com todas as expreriências de tantos caminhos concretos, percorridos?
Por onde andarão agora minhas insatisfações de viajante?
Só o instinto viajante poderá responder isso ao viajante que sou.
...E o caminho, estará sempre aberto...