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Contos-->PORTO SEGURO -- 27/03/2009 - 21:15 (Jose Araujo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Alberto havia sido casado e viveu feliz por vinte anos com sua esposa Andréia e seus três filhos, Luiz, Érica e Denis, que foram fruto de um amor intenso que preencheu suas vidas desde o inicio. O destino como sempre traz surpresas que muitas vezes modificam as nossas vidas de forma intensa e na maioria das vezes não estamos preparados para s conseqüências destas mudanças. Repentinamente Alberto perdeu sua esposa e dois filhos Luiz e Érica num acidente de automóvel e sua vida mudou drasticamente levando-o a perder o interesse pela vida e toda a autoconfiança que ele sempre teve. Já havia se passado quase um ano do trágico acidente que levou para sempre seus amados entes queridos e nada parecia melhorar, não conseguia se concentrar no trabalho e quando chegava em casa à noite seu mundo se resumia ao seu quarto em longas noites de insônia e tudo que fazia era chorar, havia sempre um vazio muito grande e uma inanição que o consumia a ponto de não se importar com Denis seu filho de doze anos, para ele era como se ele não existisse e não conseguia aceitar ou compreender a perda que haviam sofrido. Alberto havia contratado uma pessoa para cuidar de Denis para que não precisasse se preocupar com nada e nem mesmo tinha vontade de estar junto ao seu filho, nunca ao menos pensou que ele poderia estar sofrendo tanto ou mais que ele e precisando do amor e apoio do pai. Já era dezembro e as férias começaram, Denis teria que ficar em casa a maior parte do tempo aos cuidados da empregada que cuidava dele e Alberto teve suas férias do trabalho antecipadas.

Neste ponto a perspectiva de ficar sob o mesmo teto que Denis deixou Alberto apavorado, pois tinha consciência de que não haveria diálogo, que não poderia encarar seu filho de frente, era como se inconscientemente ele soubesse que havia negligenciado os sentimentos de Denis. Tudo o que queria era ficar só, apenas com sua dor e suas lembranças de um passado feliz que jamais iria voltar. Foi ai que Alberto resolveu alugar uma casa na praia e o que imaginou foi uma praia pouco habitada onde pudesse ter sua solidão garantida e onde pudesse levar a empregada para cuidar de Denis e leva-lo a passear a beira mar, assim ele não precisaria ficar pessoalmente com o garoto. Após muita procura, conseguiu uma casa numa praia muito sossegada, onde havia poucas casas e a maioria dos proprietários não moravam lá, apenas as utilizavam em períodos de férias para descanso. Saíram de São Paulo numa sexta feira à noite e chagaram ao litoral pela manhã após uma longa viagem com muito transito, muito barulho, muita confusão e um silêncio mortal dentro do carro, ninguém pronunciou uma palavra durante todo o trajeto. Logo que chagaram Alberto ordenou à empregada que acomodasse Denis em um dos quartos e que usasse o que estava imediatamente ao lado do dele, assim ela estaria próxima.

Denis com sua pouca idade sofria muito pela perda da mãe e dos irmãos e nunca conseguiu falar sobre o assunto com a empregada que por sua vez mantinha distância emocionalmente do garoto, não tinha interesse em se envolver com os problemas da família. Alberto desde o primeiro dia em que lá chegaram, ficava trancado em seu quarto, não se alimentava, não dormia direito e emagrecia rapidamente, enquanto Denis com os cuidados da empregada pelo menos se alimentava e se distraia procurando conchas pela orla marítima, sempre calado e acompanhado de Coquinho, um cãozinho que encontraram nas proximidades da casa logo que chagaram e foi adotado por Denis imediatamente. Certo dia Denis havia andando muito além da distância costumeira pelas areias da praia, quando avistou um homem que parecia estar pintando algo em uma tela e isto aguçou sua curiosidade e ele se aproximou e ficou observando as pinceladas precisas que o artista dava em sua obra. A pintura era um barco que estava ancorado em um porto em uma paisagem que transmitia uma paz intensa e Denis não conseguia tirar seus olhos do quadro.

O homem percebendo sua presença, viu que o garoto observava atentamente a paisagem pintada e quis puxar conversa perguntado se ele também gostava de pintar. Neste momento o menino desviou seu olhar da pintura e olhou diretamente nos olhos do artista que instantaneamente viu no fundo daquele olhar toda a tristeza e sofrimento, enquanto o garoto dizia a ele que sua mãe também gostava muito de pinturas e amava as artes. O fato de Denis dizer a ele que sua mãe “gostava” de pinturas trouxe à mente do homem o pensamento de que o garoto poderia estar precisando conversar sobre o assunto, pois ele mesmo havia passado por momentos difíceis quando seu único irmão morreu afogado num naufrágio. O pintor disse que se chamava Sérgio que havia tido um irmão que também apreciava seu trabalho, mas infelizmente já havia morrido a muitos anos e o garoto olhou para ele como se ele fosse uma porta que estivesse se abrindo para que ele pudesse desabafar e dizer a alguém sobre toda a dor e sofrimento que ele vinha guardando por todo aquele tempo em seu coração, sem nunca ter encontrado alguém que ele realmente confiasse para ouvi-lo.

Eles conversaram por horas, sentados lado a lado na areia e Denis contou a Sérgio sobre toda a tragédia que havia ocorrido em sua vida e ele ouviu atentamente e ao término Sérgio colocando seu braço em volta do ombro de menino, contou a ele sobre a morte de seu irmão e de como ele havia superado a dor e o sofrimento da perda, compartilhando com um amigo toda sua angustia e desespero e que este amigo havia sido para ele um porto seguro, quando o destino havia transformado sua vida num imenso mar revolto pelas tempestades dos acontecimentos. Denis olhou para Sérgio com os olhos cheios de lágrimas e perguntou a ele se poderiam ser amigos e suas palavras diziam claramente ao homem que o garoto precisava desesperadamente de um porto seguro. Sérgio aos trinta e nove anos de idade já havia vivido muito e aprendido muito da vida e seu coração bateu mais rápido e cheio de amor e compaixão pelo garoto disse que se ele quisesse poderia usa-lo como seu porto, para ancorar em segurança sempre que precisasse se sentir seguro e em paz. Assim começou uma amizade muito grande entre um homem de trinta e nove anos de idade e um garoto de doze anos e esta amizade enraizou-se ao longo do período de férias e a cada dia que se passava mais afinidades eles descobriam entre si, apesar da diferença tão grande de idade.

O relacionamento com Sérgio fez com Denis compreendesse o comportamento de seu Pai e aos poucos ele foi procurando se aproximar dele, desfazendo cada vez mais a distância que havia sido criada após o acidente. Em conseqüência de Denis ter encontrado seu “porto seguro” a vida aos poucos voltou ao normal quando voltaram para São Paulo no final das férias e Sergio nunca deixou de visitar, ligar ou se corresponder com ele.

Um amigo verdadeiro está sempre pronto para nos abrigar e proteger das intempéries, dos perigos das decisões precipitadas e principalmente, para nos ouvir quando quisermos desabafar. Para quando quisermos por para fora, tudo aquilo que nos aflige e nos oferecer o silencio precioso de sua atenção, para cada palavra que dissermos. Só assim é possível viver melhor.

Precisamos compartilhar nossos sentimentos, para não termos que carregar sozinhos o peso de tudo aquilo que nos aflige e muitas vezes é muito difícil de se suportar. Ter um amigo sincero e verdadeiro, é para todos nós, como ter um “porto seguro”, onde podemos ancorar nossos barcos até passar as eventuais tempestades que por vezes assolam nossas vidas, e quando elas se vão e partimos, levamos conosco a certeza, de que caso haja algum imprevisto, poderemos voltar, porque nosso porto seguro estará lá, no mesmo lugar, de braços abertos, sempre a nos esperar.

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