João subiu no balão. Já era moço feito quando realizou esse desejo estranho, que desde a meninice ficou encantado com aquele objeto colossal e colorido que destoava do infinito azul do céu espetacular de um domingo vespertino de verão. No princípio viu o telhado das casas, refúgio dos gatos e pombos. Depois, viu todo o bairro com as pessoas percorrendo as ruas como se fossem formigas. Mais do alto, viu o rio cortando a cidade como se fosse uma artéria bombeando água pelos páramos tristes que rodeavam as casas antes das montanhas inverossímeis. Do alto da cordilheira viu elegantes aves de rapina, alojadas em inalcançáveis picos cobertos de gelo. Já do alto das nuvens, das mais altas nuvens, no teto do mundo, bem próximo da vastidão das trevas do desconhecido universo, muito confortado na pujança de sua altura, tendo as extensas montanhas e planícies e rios e desfiladeiros e tudo o mais que existe e está ao deus-dará a seus pés, João preferiu descer. Viu o quanto sua sombra pode projetar-se nos outros e o quanto pode cobrir a luz. Quando desceu do balão, o viu murchar lentamente. Então, melancólico, percebeu que o balão era belo, monumental, efêmero e absolutamente desnecessário.