As más línguas contam que o Dr. Euzébio, bom obstetra, mas muito ganancioso, cobrava “por fora” das pacientes de convênios nas cesarianas.
Amedrontava as gestantes dizendo que a assistência ao parto era feita por residentes sem prática e inexperientes.
Algumas das parturientes, as que tinham melhores condições financeiras, combinavam com o Dr. Euzébio e sua equipe (anestesista, auxiliar e pediatra) um preço especial. Dr. Euzébio, geralmente, marcava as cesarianas nos dias em que estava de plantão e, para que a equipe não desconfiasse de seu extra, permanecia na sala durante o ato cirúrgico. Porém, quem operava na realidade eram os residentes. A gestante tinha certeza de que estava sendo operada pelo seu médico.
O dinheiro que era para ser dividido com a equipe, Dr. Euzébio, quieto, papava sozinho.
Num belo dia, a cesariana transcorre normalmente, a criança nasce e é entregue ao neonatologista que, após os primeiros cuidados, marca na ficha: APGAR 9. Esse número é uma nota que o pediatra dá ao recém-nascido de acordo com uma tabela que vai de 0 a 10, mostrando as condições de saúde e vitalidade da criança na hora do nascimento.
A enfermeira do berçário, com a criança nos braços, mostra-a à mãe e, antes de sair da sala, pergunta ao neonatologista:
“Doutor, quanto é o APGAR?”.
A parturiente, com anestesia peridural, portanto, consciente, entende “A PAGAR” e grita:
“Eu já paguei ao Dr. Euzébio adiantado no consultório dele há mais de um mês, e foi uma nota preta”.
O anestesista e o pediatra, ao descobrirem que estavam sendo passados para trás, interpelaram o Dr. Euzébio com ameaças e este, muito a contra-gosto, teve que dividir o dinheiro, àquela altura já gasto.
A partir daquele dia, o Dr. Euzébio ficou marcado e, mesmo nas cirurgias em que ele nada recebia, era obrigado a pagar o dízimo para a equipe, antes lesada, agora ávida.
Depois de algum tempo, o Dr. Euzébio, não querendo mudar-se da cidade, por exigência da família, precisou começar a vender alguns bens para saciar o apetite voraz de sua equipe cirúrgica.