Um jovem de dezoito anos caminhava lentamente no sentido da praça. Logo a seguir, acomodou-se em um banco, acendeu um cigarro, e fumou avidamente até o último trago. Depois, deu umas voltas em torno do largo, e retornou. Sentou-se novamente no banco, enquanto, outro cigarro foi aceso. Uma tênue nuvem de aflição percorria-lhe a face descorada. Duas moças que passavam, lançavam-lhe olhares sedutores, mas saíram desiludidas ante sua indiferença. O rapaz, então, levantou-se, andou vagarosamente, ao longo da avenida, e desviou a vista para o letreiro luminoso de uma farmácia. Entrou. Logo depois, saiu com um pequeno pacote na mão. O derradeiro cigarro foi aceso. Agora, demonstrava interesse pelas pessoas e coisas da rua. Estacou diante dos cartazes de um cinema, e comprou um ingresso para assistir ao filme do dia.
Meia hora depois, o som da sirena de uma ambulância invadiu a parte frontal do prédio onde funcionava o cinema. Sobre uma maca, jazia o corpo moribundo do adolescente que foi conduzido para o interior da ambulância.
Os curiosos interrogavam-se entre si: Por que um rapaz tão jovem conduziu-se dessa maneira? Por que razão? Por que... Ninguém se conformava com aquele ato destruidor.
Uns comentavam que o suicídio seria o limite de um grande desespero provocado por uma lesão emocional intensa. Outros afirmavam que o suicida se comporta como um carro desgovernado, sem propulsão motora regular. Segue à mercê dos ventos, sem guia, sem leme, sem ter onde se apoiar. Ele não pensa em se destruir. Só pensa em livrar-se de algo que o atormenta. Aí vê o abismo e se deixa cair. Um ser normal almeja amor, vitalidade, sucesso, prazer... Um ser normal não joga seu carro contra as rochas, nem contra o abismo, nem contra qualquer outro obstáculo.
Eu fiquei tão-somente pensando no trágico fim do suicida.