A tempestade passou violentamente, invadiu a cidade, e levou em suas asas a mulher que não resistiu às suas investidas.
Ela poderia ter vindo a mim, segurado minha mão e teria se livrado do cerco avassalador, pois a tempestade me obedece e para quando em ordeno.
Marília era alheia aos ventos. Não conversava com as estrelas, nem era amiga do sol.
Eu tivera uma experiência que marcou a minha vida para sempre e muito me ensinou. Numa época distante, O vento soprou o meu telhado, e eu fiquei cara a cara com o sol. Meu rosto queimou e enrijeceu. A chuva veio e molhou o meu colchão. O sol radiante bebeu a chuva.
Voltou o vento, e soprou o meu corpo... De novo, a chuva, de novo o sol... Mas, um dia, me revoltei, contrário às águas que a chuva jorra, contra esse vento tão forte e frio, e me tornei amigo do sol.
O vento lançou seu último sopro e partiu. A chuva afastou-se regando a estrada. E nunca mais voltou o vento, e nunca mais, a chuva veio.
O sol, solitário e rabioso, queimou minha pele, secou meu campo, bebeu meu rio... E eu quase morri de inanição.
Daí em diante, voltei atrás e cuidei de aliar-me ao vento e à chuva, e conciliei seus sentimentos com os meus, reverenciei suas forças e qualidades, entramos em sintonia, e fiquei amigo do vento, do sol e da chuva.
Eu brincava com o sol, rolava com o vento e caminhava sobre as águas.
Marília não passou por tal experiência. O vento a ignorou e arremessou-a contra o precipício.
Ela não sabia que o amor que vem do coração é forte como o vendaval, e a força oriunda da fé remove até montanhas.