O velho sentou-se com a cabeça encurvada e as costas doloridas enquanto as censuras, fúteis de sua colérica mulher, lhe feriam os ouvidos.
Semelhante a uma infindável cascata, ela espadanava toda uma série de recriminações: imbecil barbudo, por que desperdiças o teu tempo vagabundeando pelas estradas? O teu pai, o teu avô e o teu bisavô foram todos guardiães do Templo; se estivesses a postos quando foste chamado, sem dúvida terias sido nomeado guardião como os outros. Agora, porém, um homem mais expedito foi o escolhido. Tu, o mais idiota dos homens, preferiste vagabundear pelas estradas, afim de que, renegado, pudesses carregar a cruz de um jovem carpinteiro sedicioso.
- Isto é verdade – disse o velho -, encontrei um jovem que ia ser crucificado e o centurião mandou-me carregar a cruz. Carreguei-a até o cimo da colina e demorei-me porque as palavras que ele pronunciou, embora grandemente maltratado, não eram de pesar por ele mesmo e, sim, pelos outros; as suas palavras retardaram-me lá. Por isso esqueci tudo mais.
- Sim, na verdade esqueceste tudo mais e o pouco senso que possuías, e regressaste demasiadamente tarde para ser guardião do Templo! Não estás envergonhado ao pensares que teu pai, teu avô e teu bisavô, foram todos guardiães da Casa do Senhor, que seus nomes estão lá escritos em letras de ouro e serão lidos pelos homens do futuro para todo o sempre? Quanto a ti, velho tonto, quando morreres isolado de todos os parentes, quem se lembrará neste mundo de Simão, o Cireneu?