Depois da chuva a moça saiu pela estrada. Tirou os sapatos, segurou-os na mão esquerda e com a direita levantou as pontas da saia e foi pulando por entre as poças. Os amassa-barros gorgeavam ao lado de suas casinhas no galho das árvores. O caminho era estreito e as folhas das árvores forravam as bordas, ocultando a lama. A moça tinha pressa, quase corria. Seus cabelos esvoaçavam e a gola de sua blusa amarela agitava-se com o vento. Quando chegou à estrada principal, olhou para o norte. Lá distante apontava um carro vermelho. Colocou os sapatos rapidamente. O ronco do motor chegava baixinho mas foi aumentando. Já podia ver os detalhes do carro; o parabrisa enlameado, o retrovisor dobrado numa posição estranha. Ele se aproximava chapinhando a lama vermelha e as poças dágua se abriam em ondas raivosas. Quando o carro parou ao seu lado, a moça dobrou-se na ponta dos pés, esticou a cabeça e recebeu um gostoso beijo do motorista. Pegou sua mão e por um instante olhou dentro de seus olhos. Ele sorria levemente. Ficou parado por alguns minutos - trocaram palavras em voz baixa - depois ele disse tchau e seguiu em frente. A moça permaneceu imóvel por um tempo, feliz, abanando a mão. Retirou novamente os sapatos, segurou-os na mão esquerda e com a direita levantou as pontas da saia e foi pulando por entre as poças de volta para casa, agora sem pressa, saboreando o gosto do beijo que ficou em seus lábios.