Foi assim o nascimento de Jesus: Maria, sua mãe, ao ser casada com José, achou-se grávida. José, não querendo difamá-la, pois a amava; e não a podendo aceitar, resolveu deixá-la secretamente. E quando pensava nessas coisas, eis que lhe apareceu, um anjo do Senhor, dizendo:
— José, não temas receber Maria como tua mulher, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo. Ela dará à luz uma criança e lhe porás o nome de Jesus, porque essa criança salvará o seu povo dos pecados deles para que se cumpra o que foi dito pelo profeta: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus conosco).” O profeta não acertou em tudo, mas de tudo só sabe o Senhor.
José fez como lhe ordenara o anjo do Senhor e recebeu Maria como sua mulher. Contudo, não a conheceu, enquanto ela não deu à luz uma filha, a quem pôs o nome de Jesus.
Naqueles dias foi publicado um decreto de César Augusto, convocando toda a população do império para recensear-se. Todos deviam alistar-se, cada um em sua própria cidade.
José saiu da Galiléia, da cidade de Nazaré a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida; e foi para a Judéia, à cidade de Belém, por ser sua cidade. Estando eles ali aconteceu de ela dar à luz a sua criança anunciada, e porque não havia lugar para eles na hospedaria, enfaixou-a e a deitou numa manjedoura.
Eis que vieram uns magos do oriente a Jerusalém e perguntavam:
— Onde está a criança recém-nascida que reinará sobre os judeus? vimos a sua estrela no oriente, e viemos para adorá-la.
E eis que viram a estrela, que os precedia. Seguiram-na até que parou sobre a manjedoura onde estava a criança. Entraram e viram a criança e sua mãe. Prostrando-se a adoraram; e entregaram-lhe seus presentes: ouro, incenso e mirra.
Tendo eles partido, eis que aparece um anjo do Senhor a José e diz:
— Toma a menina e sua mãe e foge para o Egito, e permanece lá até que eu te avise; porque Heródes há de procurá-los para a matar.
Então ele tomou a menina e sua mãe, e partiu para o Egito; e lá ficou até quando o anjo do Senhor apareceu e disse:
— Vai para a terra de Israel, porque já morreram os que atentavam contra a vida de Jesus. E só foram mortos os primogênitos masculinos, portanto, sua filha não corria perigo de qualquer forma. Herodes estava mal informado.
Voltaram, então, para a Galiléia, para a cidade de Nazaré. Jesus crescia e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria sua beleza e a graça que Deus dispunha sobre ela.
Quando Jesus atingiu doze anos seus pais foram a Jerusalém, para a festa da páscoa, segundo o costume que tinham de lá ir anualmente.
Ao regressarem, foram pelo caminho por um dia, e então passaram a procurar Jesus, que pensavam estar entre os parentes e os conhecidos e não a encontraram, voltaram à sua procura e a encontraram no templo, assentada entre os mestres, ouvindo-os e interrogando-os. E todos os que a ouviam, pasmados diante de sua beleza, se admiravam da inteligência das suas respostas.
Logo que a viram seus pais ficaram maravilhados; e sua mãe lhe disse:
— Filha, por que fizeste assim conosco? Teu pai e eu, aflitos, estamos à tua procura.
Ela lhes respondeu:
— Por que me procuram? Não sabiam que me cumpria estar na casa de meu pai e de minha mãe?
Não a compreenderam e Jesus desceu com eles para Nazaré; porque era-lhes submissa. Sua mãe, porém, guardou suas palavras no coração.
E Jesus crescia em sabedoria, estatura, beleza e graça, diante de Deus e dos homens.
Um dia, indo Jesus buscar água da fonte conforme lhe pedira sua mãe, foi cercada por dois homens de coração impiedoso e mente lasciva que tentaram tomar para si a beleza que a Deus pertencia.
Tendo Jesus se mantido calma e lentos e medidos os seus gestos, tomaram os homens como consentimento a falta de resposta às suas palavras más; tentaram tocar suas mãos na pessoa que suas mentes pervertidas desejavam.
Mas eis que ao tocarem as vestes de Jesus suas mãos se queimaram lançando labaredas ao ar e, com as faces retorcidas pela dor, sentiram o poder do Senhor que lhes perguntava: “Por que tentais ofender minha filha?”
E saíram ambos a correr, procurando um bálsamo para suas mãos queimadas e, nas orações e pedidos de perdão, um bálsamo para suas almas arrependidas e devolvidas a Deus.
Por esse tempo, Jesus dirigiu-se para o Jordão, a fim de que João a batizasse. Ele, porém, a dissuadia, dizendo:
— Eu é que preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?
Mas Jesus lhe respondeu:
— Deixa por enquanto, porque assim nos convém cumprir toda a justiça.
Então ele a admitiu.
Batizada, Jesus saiu logo da água, e os céus se lhe abriram, e o Espírito de Deus desceu como pomba, veio sobre sua cabeça, e uma voz dos céus dizia: “Esta é minha filha amada, em quem me comprazo.”
E logo o Espírito a levou ao deserto onde permaneceu em jejum durante quarenta dias sendo tentada de todas as formas por todos os demônios; estava entre feras, mas a beleza de sua alma e a força de sua vontade a salvou e não caiu em tentação.
Ao fim de quarenta dias voltou Jesus do deserto para a Galiléia pregando o evangelho de Deus, e sua santa mãe a acompanhava; acreditava nela porque antes de qualquer homem ou mulher da terra, conhecia seu poder e seu destino de glória.
Junto ao mar da Galiléia encontraram os irmãos Simão e André, que saiam a lançar suas redes ao mar pois que eram pescadores. Disse-lhes Jesus:
— Venham junto a mim que eu os farei pescadores de homens.
Os irmãos, então, deixando suas redes, a seguiram.
Pouco adiante, viu outros dois irmãos, Thiago e João, que estavam consertando as redes, em companhia de seu pai; e chamou-os. No mesmo instante, deixando seu pai e o barco, a seguiram.
Então, acompanhada de seus discípulos, percorria Jesus toda a Galiléia ensinando o amor ao próximo e as maiores virtudes em nome do Senhor e curando toda sorte de doenças e males do corpo e da alma entre os povos.
Sua fama correu por todos os caminhos; trouxeram-lhe todos os tipos de doentes, os mais desesperançados; loucos, os mais violentos; aleijados e cegos, e ela os curou a todos, e enorme multidão a seguia por onde quer que fosse.
E nenhuma pessoa, homem ou mulher, a podia tocar sem que tivesse no coração a fé em Deus e o desejo da graça, pois a todo que o tentavam acontecia o que aconteceu aos dois homens em Nazaré: Suas mãos se tornavam labaredas e seu coração ouvia a voz do Senhor; que o fazia arrependido de seus pecados e fiel aos ensinamentos de Deus; através das palavras de Jesus.
Estava Jesus em um barco quando sobreveio grande tempestade. Jesus encontrava-se adormecida e alguns a acordaram em grande desespero pois sentiam chegado o fim de seus dias. Disse Jesus àqueles que a ele pediam socorro:
— Por que ser tão tímidos, ter tão pequena fé?
E levantando-se repreendeu os ventos que se acalmaram e a tempestade cessou. Muito se admiraram todos aqueles que a seguiram e que viram o poder de quem tem direito à obediência das forças da natureza.
Estando Jesus a caminhar durante longo tempo, foi chamada por algumas mulheres que a chamaram para um banquete em sua casa, e Jesus foi. Lá estavam várias mulheres, todas pecadoras, acompanhadas de alguns homens, também pecadores, que receberam a Jesus em sua casa e em sua mesa.
Tendo sido advertida por alguns de seus discípulos que a não queriam ver comendo entre os pecadores. Respondeu Jesus:
— Os sãos não precisam de médico, e, sim, os doente; não vim ao mundo para salvar os justos, pois que esses já estão salvos; vim ao mundo para salvar os pecadores.
Tendo ido Jesus a Nazaré, foi rejeitada pelos seus pois que diziam não ter que acreditar na palavra de alguém que viram crescer ali mesmo, ao pé de si e que além de tudo era apenas uma mulher. Muito admirou-se Jesus da incredulidade deles e partiu dali sem realizar nenhum milagre. E não voltou nunca mais.