Usina de Letras
Usina de Letras
45 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 


Artigos ( 62744 )
Cartas ( 21341)
Contos (13287)
Cordel (10462)
Crônicas (22563)
Discursos (3245)
Ensaios - (10531)
Erótico (13585)
Frases (51133)
Humor (20114)
Infantil (5540)
Infanto Juvenil (4863)
Letras de Música (5465)
Peça de Teatro (1379)
Poesias (141062)
Redação (3339)
Roteiro de Filme ou Novela (1064)
Teses / Monologos (2439)
Textos Jurídicos (1964)
Textos Religiosos/Sermões (6296)

 

LEGENDAS
( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )
( ! )- Texto com Comentários

 

Nossa Proposta
Nota Legal
Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->A FLAUTA DO MONGE INOCENTE / Jean de Quercy -- 17/11/2009 - 23:08 (CARLOS CUNHA / o poeta sem limites) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

















O poeta sem limites apresenta nos










“Melhores Contos da Literatura Universal”






A FLAUTA DO MONGE INOCENTE

Sabeis por que todos os anos multidões de peregrinos vão rezar em Dégagnazès? É que antigamente ocorreram lá as grandes coisas que eu vos contarei.
No bosque, no local em que os mercadores montam suas barracas no dia de peregrinação, havia um convento com trinta monges vestidos todos de branco. Na realidade eram trinta e um, mas eu disse trinta, como todo mundo, porque o trigésimo primeiro não contava. Era um mongezinho não maior que uma criança, todo corcunda e um tanto coxo, conhecido como ‘o inocente’, por causa da sua simplicidade.
Não falava com ninguém, mas sabia-se que era bom, porque tinha os olhos doces e os animais gostavam dele. Era o pastor do convento, e todas as manhãs, ao raiar do dia, saía do estábulo, onde dormia ao lado das suas ovelhas, e com elas atravessava os bosques floridos, à procura dos locais de pastagem.
O monge amava suas ovelhas, mas amava ainda mais sua flauta. Era uma flauta de bambu, com seis orifícios, que ele mesmo fizera. Quando ele a levava à boca e soprava, abrindo e fechando com seus dedos os orifícios, poder-se-ia dizer que ela falava. Eu não sei se de fato falava, mas o certo é que todos, homens e animais, a compreendiam. A flauta punha ordem em todas as atividades da vizinhança. De manhã, quando o monge saía do convento tocando alegremente, os galos que o ouviam compreendiam que era hora de cantar, e cantavam a plenos pulmões. Os camponeses diziam: "Ouça a flauta do mongezinho. Está na hora de levantar". E se levantavam. As flores que se fecham durante a noite preparavam-se para abrir. O vento que dormia nos bosques começava a se mover e sacudir as árvores, para acordar os passarinhos.
Ao meio-dia, quando o monge tocava uma música faustosa, as ovelhas se deitavam sobre as patas cruzadas, para o descanso do meio-dia, e os camponeses interrompiam o trabalho para comer o pão. Ao fim do dia, quando o monge voltava ao convento tocando uma música lenta e suave, as galinhas nos seus poleiros compreendiam que era hora de dormir, e também os camponeses cansados iam para suas camas. Que faria a pobre Dégagnazès sem o monge? Não saberia viver conforme a ordem e o horário que agrada ao bom Deus.
Um dia o monge não saiu do convento, e tudo ficou de pernas para o ar. É que os ingleses devastavam a região, e os camponeses se refugiaram no convento com todos os seus animais. Mas, como não era fortificado, os ingleses entraram, apreenderam os seus bois, suas ovelhas, as tapeçarias da igreja, os cálices de ouro e toda a prata do mosteiro. Mas não ligaram para a flauta nem para as ovelhas do mongezinho. Logo que os ingleses se foram, o monge recomeçou a sair no horário de costume, tocando sua flauta e acordando os galos na hora em que eles deviam ser acordados.
O prior do convento ficou furioso. Era um homem grande e vermelho, que queria ser sempre o mais forte, e que desprezava os simples e pequenos. Como os ingleses estavam por perto e podiam voltar, ele decidiu fortificar o mosteiro. Uma noite ele reuniu seus vinte e nove monges e lhes mandou porem mãos à obra, para trazer as pedras da montanha negra e quebrá-las, a fim de levantar um grande muro. Mas os monges desataram a rir:

— Precisaríamos de cem anos para esse trabalho. Somos apenas homens, e o próprio diabo não o conseguiria.

— Veremos — disse o prior. — Voltai para vossas celas, seus desocupados, porque eu vou à procura do diabo.

O prior não sabia aonde ir e o que fazer para encontrar o diabo. Mas era tão orgulhoso, que estava certo de o diabo vir por si mesmo. Compreendeis bem que nessas circunstâncias o diabo não se faria de rogado. E realmente ele apareceu ao prior em uma clareira do bosque, vestido com roupa cor de fogo e trazendo na mão um tridente. O prior, que tremia um pouco, procurou dar a impressão de olhá-lo de cima.

— Então você está por aí, seu preguiçoso. Quer dizer que você me ouviu quando pronunciei seu nome!

— Fale com menos arrogância — respondeu o diabo. — Estamos sós, e é você que precisa de mim. E só o servirei se você me pagar bem. O que quer que eu faça?

— Eu quero um muro que contorne o convento, com 10 metros de altura e três de espessura, com cem seteiras e um grosso portão de ferro. E precisa ser construído durante a próxima noite, entre o pôr-do-sol e o primeiro canto do galo.

— Vejamos então a minha parte no negócio. Se eu construir o muro antes do canto do galo, você me dará sua alma e a de todos os monges que te pertencem por voto de obediência, e dos quais, portanto, você pode dispor... Mas o que é isto que eu estou ouvindo?

Era o som da flauta, porque o mongezinho corcunda tinha visto raiar a aurora, e começava a tocá-la enquanto saía do convento. Como de costume, os galos acordados pela flauta se puseram a cantar, e toda a vizinhança começou a se movimentar. O diabo ficou mal à vontade com todo esse bulício do trabalho honesto, e não sabia mais o que dizer. Teve até desejo de fugir, quando viu aparecer na clareira o mongezinho entre suas ovelhas e cordeiros.

— Não gosto desse anão mal construído — disse enfim. — Ele está com jeito de quem quer nos espionar. Eu vou-me embora, Sr. Prior, e depois apareço na sua cela.

— Não se preocupe — disse o prior, que desprezava o mongezinho. — Esse anão é um tolo, um fraco de espírito, mais ignorante que os próprios animais. Ele não ouve nada, não sabe nada e não compreende nada. Podemos concluir tranqüilamente o nosso negócio.

Parcialmente tranqüilizado, o diabo redigiu o contrato em um pergaminho e o leu em voz alta, fazendo-o assinar pelo prior, e em seguida desapareceu. O mongezinho havia compreendido tudo, como bem o podeis imaginar, e ficou triste o dia todo. Até se esqueceu de tocar a flauta ao meio-dia e à tarde, desorganizando novamente todas as atividades da vizinhança.
Quando o sol se pôs, ele viu chegar um batalhão de diabos. Havia milhares, de todas as cores. Uns puxavam carroças carregadas de pedras, outros cavavam as fundações, outros assentavam as pedras. Todos permaneciam em silêncio. Não se ouvia nada, mas o muro ia se erguendo, e o mestre dos diabos ia de um lado para outro, em uma nuvem de fogo, empurrando com um tridente aqueles que não trabalhavam rápido. Chegou a meia-noite, o que significa que restavam ainda três horas para terminarem o trabalho antes do canto do galo. O muro estava quase concluído, e logo chegou a porta. O diabo deu um assovio, e todos os outros diabos se aproximaram para assentá-la. Era um trabalho difícil, mas os diabos, numerosos e fortes, acabaram colocando-a nos gonzos.
O mongezinho compreendeu então que tudo estava perdido. Olhou para a flauta e chorou, pensando que no inferno ela não lhe valeria de nada. Mas tanto olhou para a flauta através de suas lágrimas, que afinal teve uma idéia. Acordou sem ruído suas ovelhas e cordeiros, que o acompanharam enquanto saía de mansinho, com a flauta à mão.
Quando os diabos, lá no alto do muro, assentavam a última camada de pedras, ele começou a tocar a flauta, com toda sua força e toda sua fé. As notas da flauta se espalharam pelos campos e chegaram até os galos, que acordaram sobressaltados. E todos os galos de Dégagnazès, com medo de terem perdido a hora, puseram-se a cantar com todas as suas forças, e o seu canto chegou às muralhas ainda inacabadas do convento.
O diabo compreendeu que havia perdido, e fugiu com todos os seus operários, urrando, enquanto o monge, alegre, continuava a tocar sua flauta, como para agradecer ao bom Deus.




Autor: Jean de Quercy
Produção Visual: Carlos Cunha





Outros contos...

O CONTO DO PREBOSTE / A.J.Cronin

O DIVERTIMENTO FORÇADO / Mor Jókai

O COMPRADOR DE FAZENDAS / Monteiro Lobato

DEZ ANOS DE KEST / Malba Tahan

UM INGRATO / Artur Azevedo

A LUTA COM UM MONSTRO / Victor Hugo

A LEGENDA DE IGELHEM / Alexandre Dumas

A IMPERATRIZ DE SPINETTA / Paul Heyse

MADEMOSEILLE FIFI / Guy de Maupassant

A MULA DO PAPA / Alphonse Daudet

A DAMA OU O TIGRE / Frank Richard Stockton















Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui