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Contos-->A essência do dragão. -- 25/02/2010 - 10:34 (Gerson Ferreira da Silva Filho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Era uma vez, numa terra tão distante, terra essa entre montanhas e mares onde o sol reinava sobre um povo feliz. Havia liberdade, pois existiu, no passado quem lutasse em por esse estilo de vida. Embora poucos; através destes foi conseguida uma transição pacífica dos tempos de combate aos tempos de paz. Naquele lugar, muitos não sabiam, mas ocorreu uma guerra suja entre membros de duas tendências totalitárias, após a derrota de uma delas veio o tempo de reconstrução democrática em forma de acordo. Tudo seria esquecido Porém nem todos estavam felizes, existiam aqueles que só se satisfaziam e se satisfazem com o arbítrio, com o controle absoluto. Ainda eram atormentados por seus rancores.

Liberdade, alternância de poder, direito de ir e vir, a possibilidade de livre expressão, liberdade de culto religioso entre tantas maravilhas de um regime democrático não seriam capazes de seduzir uma pequena parcela daquela sociedade. Mesmo derrotados, ainda assim insistiriam em alimentar seus devaneios. Então assim procederam por anos consecutivos: totalmente possuídos então; pelo rigor doutrinário, presente no peculiar pensamento de esquerda. Infiltraram-se nas instituições de ensino, padres que confundiam caridade cristã com socialismo, professores que se aproveitavam das circunstâncias para manipular mentes. Por muito tempo semearam a sua doutrina. Foi um trabalho sistemático e cansativo. O objetivo? Formar uma geração, que um dia com uma visão transversa a realidade, pudesse cooperar com o objetivo maior, a tomada do poder.

Foi um trabalho bem feito. Após anos de cultivo em todas as instituições de ensino, em todos os níveis, o ideário oblíquo baseado principalmente no marxismo já deturpava e confundia a avaliação de toda uma geração. Parecia bonito ser de esquerda. Preocupar-se com o “social” era a sensação do momento. Canções, peças de teatro, livros, produtos da geração doutrinada fluíam pelos estertores. O meio artístico foi extraordinariamente utilizado no método, venderam a falsa idéia de que aqueles que no passado combateram o arbítrio de direita desejavam a liberdade, a democracia. Expuseram a parte sedutora do dragão.

Intelectuais associados à torpe doutrina seguiram criando laços quase religiosos e digamos assim; caridosos, para conquistar inúmeros corações. Anos à frente a colheita estava pronta. Profissionais, intelectuais em todas as áreas possíveis, estavam preparados para abrir a porta ao dragão. Não possuíam mais a condição de entender qual o real preço da liberdade. Envenenados desde tenra idade com o conceito do coletivismo, aquele monstro gerado entre mentes decrépitas que tanto acossou com atrocidade o povo do leste europeu. Acreditavam que a supressão das qualidades individuais, seria o único caminho para o fim das desigualdades. Acreditavam, portanto que iriam se tornar pastores. E o povo rebanho amorfo pronto a ser tocado. O poder emana do povo diziam, sim! Na verdade emana, através da democracia e seus representantes eleitos de forma justa. Com alternância de poder, sendo assim os incompetentes em gerir as atividades públicas, punidos pelas urnas na seleção do voto, que arbitra o destino dos governantes nos países bafejados pela liberdade. Aqueles que não aprovam esse modo de vida perdem-se no sofisma incauto do ser possível se aproveitar o melhor do indivíduo misturando-o ao conjunto disforme da massa. Mentes brilhantes se perderam neste equívoco.

A vida caminhou, governos sucederam-se; bons e maus governos. Competentes e incompetentes, porém o essencial nestes anos, naquele país, o conceito democrático de alternância de poder foi respeitado. O povo mais simples ia prosseguindo com suas necessidades, contudo alguns programas desses governos, direcionados a atenuação dessas carências iam procurando de alguma forma dar mais condições de vida digna a população. Era o ideal? Não, mas um início. Administrar populações procurando respeitar limites e diferenças, aplicar recursos e acompanhar o seu real efeito na sociedade não é uma tarefa fácil. Ainda mais quando seguindo o processo democrático; claro, deve-se conviver com aqueles que possuem idéias diferentes, apesar de muitas vezes, esta parcela da sociedade não gostar disso, e fazer de tudo para atrapalhar o desenvolvimento de implementos que iriam beneficiar o povo, por pura diferença ideológica. Nesse contexto os agentes do totalitarismo, como formigas, iam fazendo o seu trabalho minucioso. Todas as fraquezas de uma sociedade eram exploradas colocando-se sempre um viés de decadência capitalista nos erros individuais e de grupos, que acabavam de uma forma ou de outra se associando ao crime e a corrupção. A idéia era passar uma visão do cidadão socialista como um personagem incorruptível no teatro da vida. O sutil mimetismo da besta.

Com uma mente oculta e embotada na transversalidade da sua natureza intelectual. Os semeadores do arbítrio finalmente após anos de tentativa conseguiram chegar ao poder. Os arquitetos do plano tiveram as portas abertas para a entrada nas entranhas da administração do país. Oportunidade essa oferecida por uma das ferramentas de um regime político democrático: o voto. A campanha firme pela desmoralização dos outros segmentos políticos, a pesada carga utilizada contra toda idéia de valorização ao indivíduo, a doutrinação subliminar e por vezes direta da camada mais carente da população deu a estes a vitória. Poderia até ser esperado que, finalmente os problemas das classes menos favorecidas fossem senão extintos, mas ao menos atenuados. Não foi bem assim. Havia um passivo de milhares de colaboradores a serem atendidos pelos recursos do reino. Logo se veria que o tal cidadão socialista incorruptível não passava de um delírio ou simplesmente uma maldade insana articulada na mente doentia daquela gente. Programas sociais; é obvio, foram criados, mas entre a criação e a conclusão existe uma sutil lacuna que precisa ser preenchida. Ocupar este espaço é o que se espera de um governo de cunho social. Funcionaram? Não! O reino apenas parecia estar melhor. Furtivas metonímias adoçavam os discursos, metáforas esfuziantes cegavam mentes. A verdade perecia no altar da partidarização. Tudo pelo objetivo final.

No lugar, soluções foram criadas ferramentas de aprisionamento por favores. Alimento sim, estudo e capacitação para o trabalho não! Pão e circo; funciona para absolutistas desde o império Romano. O gado não distingue a cor da doutrina. Sim! Essa gente enxerga o povo como um grande rebanho a ser controlado, claro em prol do bem estar da corte. A vestimenta do totalitarismo às vezes muda. Certas vezes usa azul, ou vermelho em outra qualquer; verde, mas o objetivo máximo é dar poder perpétuo a um único individuo ou a este individuo e seu séquito. Iscas amorais foram espalhadas através do tempo. Desconstruir moralmente opositores, trabalhar com as fragilidades humanas, corromper e aprisionar por comprometimento, aproveitar-se das chances oferecidas pelos oportunistas de plantão, ávidos por um engabelo, estas alternativas obscuras foram tremendamente utilizadas naqueles anos. Quando a parte dura do plano tivesse próxima de ser executada, o contingente de resistência deveria ser o menor possível. A parcela mais carente da população estaria sob o controle dos programas sociais que eram apenas paliativos, pois não debelavam de vez a indigência do povo, ao contrário, perpetuavam a condição uma vez que apenas tinham suas necessidades básicas atendidas, sobreviviam sem perspectiva de progresso. O critério da comida sim profissionalização e cultura não, prevalecia.

Então assim prosseguiram por vários anos no poder, exercendo a democracia e se alimentando dela, mas ainda assim eles não desistiram do plano original, o domínio absoluto. Controle massivo da imprensa em todos os níveis. Isso não era problema, uma legião de jornalistas, estes foram doutrinados desde a base nos conceitos socialistas, para eles o que o governo fazia era completamente normal e justo. Como seres automatizados estes jornalistas davam espaço a fatos muitas vezes totalmente tendenciosos e sem comprovação. Trabalhadores por intermédio do controle sindicalista outro braço utilizado por esta tendência, ocupavam cargos importantes e estratégicos na empresas do governo direcionando verbas em prol da causa. Assim se consumava o fortalecimento do sistema. Como naquele recanto do mundo, as regras ainda democráticas previam a alternância de poder, havia ainda o grande salto a ser dado. E como seria? Eleger um candidato da mesma tendência? Sim o provável e o adequado para o pulo na escuridão, alguém com firme determinação, inabalável objetivo. O alinhamento político daquele reino perante o mundo também já havia mudado drasticamente. Apoio ao que havia de pior nas cercanias e ao largo era dado às claras, sem constrangimento, sem pudor. Mas não, isso não era o suficiente, ainda assim haveria a necessidade constante de eleições, um estorvo essa consulta popular! Das necessidades do povo nós cuidamos, sabemos com antecedência todos os desejos do povo, pensavam eles. No cenário sem graves contestações, com oposição pífia e todos os meios de comunicação praticamente dominados, a queda do regime democrático parecia inevitável. Essa dominação se devia muitas vezes por doutrina e outras por recursos pecuniários repassados em larga escala pelo governo. O acordo da ovelha com o lobo.


Na parte mais negra da alma humana vive o maligno. Não dê laboratório ou oficina a almas atormentadas, pois elas vão criar. Nos tempos do regime de direita, no aconchego daquela doce paisagem, era sedutor mostrar-se esquerdista. Preocupado com causas sociais, um combatente da liberdade cria-se com tenacidade que se lutava realmente por liberdade, ao menos os românticos. Os “puros”, sabiam muito bem que não era bem assim. A idéia base era a ditadura do proletariado. Reviver no país e na vizinhança o sistema que apodreceu em outras partes do mundo. As almas atormentadas estavam criando. Naquele caldeirão, lentamente cozinhavam as mazelas com que alimentavam o espírito dissoluto dos seus corpos. O disparate de tornar iguais os que são irmãos, porém diferentes em características, qualidades e defeitos. As diferenças que, de modo natural são nascedouros de idéias e pavimentam os objetivos e o progresso de uma sociedade saudável. Não existe sustentabilidade social sem liberdade. No cativeiro coletivo só existe opressão desconfiança e medo. Os aglomerados humanos necessitam apenas da regulamentação aprimorada por Péricles para que de forma ordenada e civilizada possam seguir seu curso. Fruto do egoísmo profundo, o totalitarismo fim do individuo massifica o ser humano, para que assim este seja controlado conforme o prazer do tirano que representa o estado.

Neste reino, por detrás das montanhas por quanto tempo a liberdade conseguirá sobreviver? Problemas criados pela estrutura transversal em curso permitirão consulta popular isenta por quanto tempo? Quanto tempo levará para que somente os comitês tenham o poder depois de instalados para decidir? Então nesse momento absurdo, o povo daquele lugar organizou-se para votar. Quem sabe a última chance. Com discernimento votará! Enquanto puder! Privilegiará a liberdade com sua escolha. Se, ser livre for o objetivo. Absurdos são plausíveis em mentes envenenadas. Até reviver doutrinas que por comprovação real não deram certo e jamais darão devido à diversidade de características do ser humano. Reconhecer-se errado é uma qualidade não um defeito. Permanecer no erro apesar de reconhecê-lo; orgulho! Característica do dragão. O pleito dirá o quão profundo penetraram no corpo democrático as garras da fera.

O dragão chamado ambição ruminou seus fétidos desejos e arrotou a labareda. Possuindo uma legião de aliados, audazes como ratazanas famintas, ele tentou o inconcebível. Enquanto existiu o direito de ir e vir, enquanto existiu o frescor da liberdade a cidadania Foi exercida em sua plenitude. Portanto aquele povo das terras altas seguiu lutando, a verdade foi seu escudo, a honra seu gládio, assim a chama da esperança crepitou até o derradeiro momento. Não houve alívio para a sombra, naquele lugar a luz sempre a acossou.

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