Acende o cigarro, dá umas baforadas e começa a falar:
– Quando penso em minha vida, cada vez, fico mais triste. A estrada que eu sigo tem espinho... Muito espinho. Uma rosa, sequer uma, não consigo encontrar. Meu caminho é muito incerto. Eu não sei por onde andar.
– Companheiro, você está um tanto esquisito. O que há com você?
– Os meus olhos abatidos anseiam por descobrir uma sombra, uma imagem, um sorriso ou um olhar para ver se encontro alívio ou consigo até sorrir. Se perguntam por que choro, não respondo e vou chorar.
– Não sei não. Já me acostumei com esta minha vida. Tenho que levar o barco para frente de qualquer maneira. Só desejo sobreviver.
– Minha história, ninguém sabe nem pretendo descrever. Pela vida, desgarrado, vivo triste e sem amor. Hoje, o mundo me rejeita e o vício me seduz.
– O vício nos sustenta.
Abre os braços, gira em torno de si e grita com todas as suas forças, num entusiasmo delirante:
– Meus senhores, e senhoras, eu existo... Estou aqui!
– Pare com esse monólogo lastimoso! Ninguém o escuta. Ninguém liga para nós.
– Hoje me despeço, meu amigo. Amanhã serei um novo homem.
– Amanhã terá casa, comida e dinheiro no bolso? Bela quimera! A nossa simples presença incomoda o outro lado.
– Eu vencerei. Provoquei minha auto-estima e me recompus. Ontem olhei para mim mesmo e me perguntei: Então, meu bom Hermano, para que as drogas? Uma voz vinda do meu interior respondeu-me: Para destruí-lo, idiota!... Tão-somente destruí-lo. Aí, eu gritei: Chega! Eu não quero me destruir! Ainda é cedo para morrer!... A droga anula minhas emoções e me elimina aos poucos. As pessoas de bem me evitam. Forçosamente, tornei-me um marginal. Agora vou ao encontro da minha estrela que não para de piscar. Ela me chama todo dia, e eu sempre a ignorei. Meu amigo, amanhã ao acordar, já estarei bem distante daqui.
No dia seguinte, antes do sol despertar, ele partiu com um sorriso nos lábios e seguiu a linha do horizonte sem olhar para trás. Antes, fitou longamente o amigo que ainda dormia.
– Adeus, amigão. Foi muito bom tê-lo conhecido. Você foi um bom companheiro.