A energia de Plutão pode arrebentar o que Saturno cristaliza. Não é só paciência que move montanhas. Mas faz esperar. Foi assim, um belo dia levantou-se a primeira parede em local que parecia ser de ninguém mas talvez fosse da terra. Depois outra. E uma escada para mais um andar, espaço para guardar o antigo, o acomodado, velhos, conservadores e confortáveis hábitos de não mudar.
E o peso do telhado, uma dorzinha no fundo do peito, um suspiro. Goteiras foram aparecendo mas a chuva também passava e feito febre terçã a água secava. Ventava. E se fechava uma janela aqui e outra ali, depois se abria para olhar a vista, considerar outros horizontes, paisagens diferentes - ``Como seria além da montanha? ``E depois desse ferro de Marte que magnetiza e prende a gente no chão?`` - Muito longe, tão maior que a coragem que faltava, do oco que parecia o fim da estrada e a vontade de atravessar o mar. Olhava, olhava e ficava. - `` Deixa assim que está bom``, - Como a fala de alguém doente e machucado. Mas bom não estava. Um dia, pesou, pesou, pesou e com a desilusão tudo rodou. O que vai ao chão guarda junto ao desencanto, o susto e a dor, as sementes de Hades, do tipo das de romã que enfeitiçaram Perséfone, raptada pelo deus da escuridão, do inconsciente e do submundo para distante da mãe, Ceres. Queria ser seu único dono e a levou para o fundo da terra, triste e só, acima dali nada nascia, nem florescia. Quase tudo passa, então, veio depois a fase de outro entendimento, as formas de renascimento. Foram feitas as quatro estações, um outro modo de lembrar que o tempo passa e se desfolha em primavera, veráo, outono, inverno...
