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Contos-->Maktub -- 22/04/2010 - 23:40 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Nos mistérios se reúnem as pessoas e de todos os que eu tive, com certeza o dela era o mais cativante. Como se pode resumir a vida de uma beldade assim em poucas linhas? Ela navegava atenta, olhos argutos, cabelos lisos e pele diáfana, circundava as dificuldades, calma e impávida. Só quem a lê nos olhos pode talvez adivinhar o que ela pensa, mas ela não deixa, não quer ser decifrada. Faz parte de sua luz, ser bela, estátua de perfeitas formas e pupilas de uma luminescência insondável.

--Então, que mais o personagem disse?
--Qual personagem?
--Você estava me contando uma história!
--Ah, sim. É que estava olhando você.

Como fazer para não olhar se ela deixa no ar a impressão de sua fala, deixa atrás de si o rastro dos perfeitos passos, o que fazer para tentar escapar de sua aura dourada de calma absoluta? Se ela deixa nas pegadas de seus pequenos pés o perfume da flor-de-lótus, por outro lado convence o mais duro dos seres de sua posição firme e serena. Não se duvide de sua força, de maneira alguma!

--O que vê em mim, afinal?
--Vejo os mistérios desvendados; vejo a luz de um reflexo num lago impermanente. Vejo a claridade refletida da lua em alguma baía distante, o marulhar da costa em ondas cristalinas, os peixes fosforescentes...

Ela ruboriza encantadora. Sorri e fita o horizonte numa fala desatenta que espera um retorno.

--Ah ah! Só você mesmo.
--Ninguém nunca disse isso a você?
--Não dessa maneira.
--Maktub!

Está escrito e dito, então, que o que ela tem é mais do que eu pudera dizer, pelo menos nesta esfera, nesta hora e momento, pela pura força do pensamento. Como se pesa um sorriso, como se mede o quase nada que se avizinha? O que dizer dos momentos passados, das angústias?

--Então?...
--Ah, o personagem.
--Mas que escritor é este? (olhos de jabuticaba, sonhadores)
--Deixe-me pensar. Ele estava em um jardim impensável, suspenso nos ares, quando ela surgiu e sorriu irresistível. As quedas d’água lançavam seus vapores na atmosfera; só restavam os dois, pois àquela hora, todos os súditos se curvavam ao sono sagrado...

"Então, naquele supremo instante, quando todas as forças da natureza conspiravam em seu crescente reencontro, as nuvens se afastavam e o que os dois podiam ver dali de onde estavam, era o clarão de um sonho, uma pirâmide lançando sua sombra ao sol de setembro, as flores de lótus e os papiros balançando na suave brisa e suas mãos se tocando em suave ritmo, com o compasso de seus corações harmonizados em uníssono com os pássaros em vôo alegre, num céu que se tingia de violeta..."

--Eu acho, você tem o dom. Digo, de contar histórias.
--Você acha?
--Definitivamente.

Maktub.
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