Era uma vez...
Pelópidas já era um senhor, seus ciqüenta anos, solteiro.
Envolvido com serviços comunitários, religião (era evangélico) e outras coisas para encher linguiça, pois era um tanto desagradável visualmente para as mulheres, terminou chegando à essa idade sem se casar.
Sua única companhia feminina era a cadela Fiinha, à qual ela muito admirava, mas nunca deixou cachorro algum copular com a bichinha, que, agora velha, andava sempre triste, dormindo, pois sua juventude foi sem sexo, não teve filhotes. Era uma cachorra não realizada.
Pelópidas sabia, no âmago de sua alma, que sua existência, solitária, fora um grande fiasco.
Suas necessidades sexuais sempre foram financiadas, em prostíbulos das cidades vizinhas, onde descontava nas vagabundas aquilo que não conseguiu com uma companheira.
Mas ele guardava em seus pensamentos coisas que eram inconfessáveis.
Sua comunidade nunca poderia imaginar quem era de fato aquele homem, que carinhosamente fora apelidade de "Tio Pepê", pois trabalhava com crianças carentes no ambiente angelical da igreja da qual era diácono.
Tio Pepê era uma animação só com as criancinhas, todas o adoravam, mesmo sendo feio que nem o cão.
A beleza de sua vibração superava sua feiúra, e ninguém se apercebia, numa segunda olhada, que o cara era feio de dar dó.
Os pais também confiavam no homem, maduro e sério, mas que se deixava envolver pelas brincadeiras pueris com as crianças que até ele chegavam.