Há muito tempo escrevi as treze velas,
hoje conto a mesma história numa outra forma,
quem me contou jura que é verdade, eu acredito porque creio na palavra
e cada santo ou entidade.
Numa época muito distante, um viajante chegou numa cidade sem mantimentos,
sua embarcação quase tinha ido a pique e ele tentou ali encontrar mercadorias
para fazer a manutenção e prosseguir viagem.
Atracou e desceu em terra firme.
Era um lugarejo pobre e só havia uma mulher que lhe vendeu doze ovos,
mas antes os cozinhou para que eles não pudessem reproduzir...
Num outro povoado ele se dirigiu a uma igreja para agradecer e
lá acendeu treze velas, havia doze imagens e uma era de São Jorge
montado em seu cavalo tendo a seus pés o Dragão.
Retornando tempos depois aquele lugarejo foi preso e levado diante do juiz.
Estava sendo
cobrado pelos doze ovos que segundo o advogado da mulher,
se chocados teriam doze pintos,
crescidos, se tornariam galos e galinhas,
a conta estava tão grande que o homem não tinha como pagar,
assim foi condenado á morte por enforcamento.
O homem indefeso sabia que ia morrer injustamente,
mas como se defender se nem advogado tinha, nada,
só a grande fé em Deus e rezou, rezou...
Na igrejinha, o Dragão que não é outro senão Lúcifer,
o Anjo amado do Senhor que foi expulso do paraíso por
querer se tornar igual ao Criador, na umbanda é respeitado,
principalmente em Estados como Belém e Amazonas onde se apresenta com
o pseudônimo de SEU SACI, ou Sua EXCELÊNCIA, EXU LALÔ DO SOL E DA LUA,
tem um gorro na cabeça, sua folha é
“EXU SACI PERERE, EXU SACI PERERE, ARAGAROÊ SACI PERERE”.
Com licença do Senhor Ogum, o Velho Jorge como
diz meu amigo Walter que o cultua e que me ensinou a fazê-lo,
SEU SACI nos protege, nos livra dos inimigos.
Voltando à história, o Dragão pediu a Jorge:
JORGE aquele homem vai ser morto e ele é inocente, ele veio
aqui na igreja acendeu as candeias pra todos os santos,
até pra mim, me dá licença, tira as patas do teu cavalo de
cima da minha cabeça
e me deixa ir salvar aquele homem.
Depois de tanta insistência Jorge,
lhe emprestou o cavalo e ele tomou a forma humana
e chegou ao local quando a corda estava sendo passada no pescoço do infeliz.
De longe foi gritando:
Parem! Este homem é inocente!
Sou o advogado dele, e estou com muita pressa.
O Juiz voltou a dizer: Ou ele pagava a dívida dos ovos ou morreria.
O advogado muito aborrecido disse ao juiz: Excelência tenho pressa,
preciso cozinhar quinhentos ovos para fazer
nascerem quinhentos pintos, ferver quinhentos
litros de leite para fazer nascerem quinhentos bezerros,
cozinhar um alqueire de milho para plantar no roçado...
O juiz ouvindo aquilo respondeu:
O Senhor é louco? Como pode fazer nascerem pintos de ovos cozidos?
Nascer bezerros de leite fervido e brotar milho de grãos cozidos?
Ora Excelência, se eu não posso fazer nada disto,
este homem não pode ser condenado pela compra de doze ovos.
Ovos estes que pela ganância da mulher foram cozidos para que não nascessem nenhum pinto?
Ouvido a mulher, o Juiz mandou que ela desse ao homem toda a sua fortuna,
porque ela usara a mentira para enganar a Justiça.
Assim foi o acontecido, o homem foi solto e seu advogado o levou consigo, lá adiante o homem perguntou:
Senhor, eu nunca o vi, como o Senhor chega assim como meu advogado e me tira da forca eu não sei como pagá-lo.
O Advogado respondeu: Gratidão Senhor, pela primeira vez alguém acendeu velas a um Dragão dentro da igreja, São Jorge,
permitiu que eu viesse aqui e o libertasse. Foi Gratidão Senhor!
E desapareceu.
Esta é a segunda história que me foi contada sobre o mesmo personagem.
Manaus, 19 de setembro de 2010. Ana Zélia
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Nota da autora: Com a permissão de Oxalá, (DEUS), Senhor OGUM,
Sua Excelência, Seu Saci, tem sua história contada,
creio e acredito nele como força de Cura, Proteção e Luz,
são espíritos de muita força que nos ajudam a sermos fortes,
acreditarmos na força da natureza, de Deus, Senhor do Universo,
em qualquer língua ou crença.
EXÚ LALÔ DO SOL E DA LUA. Axé. Ana Zélia