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Contos-->A PONTE -- 30/09/2010 - 08:44 (GIVALDO ZEFERINO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O pedreiro Abel tinha uma tarefa a executar. A ponte de madeira que ele deveria atravessar para chegar ao edifício em construção não era confiável, mas o único meio de locomoção que lhe permitia alcançar o ponto onde guardava suas ferramentas.
No meio do caminho, porém, havia uma rachadura perigosa na ponte, que dificultava a ultrapassagem. Abel para, sem ter ideia de como prosseguir.
O mestre-de-obras era muito exigente e queria pressa.
– Estamos perdendo tempo! Gritou do outro lado.
– A ponte está rachada e não dá para continuar. Retrucou Abel.
– Ora, não me venha com desculpas. Trate de se apressar, pois temos pouco tempo para entregar a obra.

Abel permaneceu imóvel, olhando ora para o abismo, ora para o mestre-de-obras.
Alguns viandantes mais afoitos conseguiram pular e alcançar o outro lado da ponte.
O mestre-de-obras grita:
Faça como eles. Pule a barreira, e logo chegará aqui.
Abel sentiu um calafrio percorrer-lhe o corpo, só em cogitar sobre tal proeza. Observava os puladores, e suas pernas tremiam apavoradas.
Ele dizia de si para si: Ficar aqui, a observar os saltadores, não resolve minha situação. Retornarei ao início da ponte. Pegarei outro caminho, então, conversarei com o mestre, e dispor-me-ei a trabalhar mais algumas horas pelo atraso.
E assim o fez.
Um pedestre que o percebeu nesse embaraço, assim lhe falou:
– É muito fácil atravessar esta ponte. Basta escolher um ponto seguro, impulsionar o corpo numa breve corrida para frente, e pular no momento certo. Não existe risco de erro. Basta um pouco de determinação.
Abel respondeu:
– Sei não... Melhor pegar outro caminho mais acessível.
O outro retrucou:
– O que é fácil atrai sempre os mais fracos. Eu mesmo abomino os pusilânimes.
Decididamente, o falador, ao perceber que não convenceria Abel a enfrentar o obstáculo, despediu-se e foi adiante. Abel acompanhou seus movimentos. Lá do outro lado, o pedestre lhe acenava sorridente.
Sentiu vergonha de si mesmo, mas só isso. Virou-se em direção ao início da ponte e partiu.

O mestre-de-obras lhe proferia com firmeza:
– Você não merece confiança, pois é capaz de abandonar qualquer empreendimento (por simples covardia diante de uma dificuldade que tenha de enfrentar), e prejudicar drasticamente toda a estratégia elaborada a fim de se obter o sucesso do objetivo firmado.
Abel não entendeu bem o que ouvira, e falou:
– Trabalharei horas extras a fim de compensar o tempo perdido.
– Definitivamente, você está excluído do nosso quadro funcional. Finalizou o mestre-de-obras, que já partia para dar instruções ao novo pedreiro.
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