Você está um tanto desmantelada, querida Vitória. Nem tanto nem tão pouco. Precisamos cuidar da gente porque senão, quem vai cuidar? Amanhã, sábado, iremos nós dois a uma loja comprar roupas e sapatos para mim e para você. Depois, iremos a uma cabeleireira. Quero vê-la bem bonita. No domingo, faremos um passeio no parque. Vamos nos divertir bastante. Lá tem carrossel, montanha-russa, roda-gigante, trem elétrico... meio mundo de coisas interessantes. Será maravilhoso, você vai ver.
Sabe, quando eu saía com Leonora, a gente brincava feito duas crianças. No dia que nós fomos ao parque, ela inventou de subir na roda-gigante e me forçava a acompanhá-la. Eu tinha o maior pavor daquela geringonça, mas, ela me implorou tanto que concordei em segui-la, com o coração nas mãos. Foi uma loucura, Vitória. Quando nos sentamos, e a roda começou a girar, fiquei meio tonto e apavorado. Na descida, eu gritava com todas as forças segurando sua mão, ela ria do meu medo e também gritava junto comigo.
No final de tudo, até que gostei da brincadeira. Confesso-te que, depois dessa aventura, nunca mais tive medo de roda-gigante. Em seguida, ela me convidou para correr na montanha-russa. Aí eu chiei: Nem a pau, Leo. Ali eu não vou de jeito nenhum. Ela fechou a cara e me disse: Molenga! Então, eu vou sozinha. Se algo acontecer comigo, você é o culpado.
E pôs-se a caminho da montanha-russa. Eu fiquei de longe, só olhando enquanto ela ria e me acenava lá de cima. Na volta, segurou minha mão e me disse: Nesse ponto, você não combina comigo. E eu respondi: Ainda bem, que é só nesse ponto. Você também não gosta de jogar futebol. Estamos empatados.
Leonora era uma pessoa bem barulhenta e extrovertida. Porém, na última vez que nos encontramos, ela parecia tensa. Com os olhos assombrados, fitou-me por uns instantes, depois abaixou a vista e falou: Estou grávida... Mas, não quero casar com você só por isso.
Fiquei prostrado ante tal revelação e me levantei com uma vontade enorme de sorrir e de chorar ao mesmo tempo. Não sabia por onde começar. Ela segurou minhas mãos, depois me abraçou e beijou-me na boca, demoradamente, um beijo regado a lágrimas, com gosto de adeus. Retirou-se quase correndo sem me dar oportunidade de falar qualquer coisa que eu tencionava falar. Na esquina, voltou-se para mim, acenou-me e desapareceu. O resto da história você já sabe.
É muito doloroso ficar recordando maus momentos. Quando revivemos situações desagradáveis, nos transformamos em algozes de nós mesmos.
Mas, mudemos de assunto. Eu lhe dizia que, amanhã, nós vamos fazer compras e, depois, você vai à cabeleireira. Nem você vai se reconhecer depois. Vamos divertir-nos como nunca.