As sarjetas ao redor do mercado exalavam o cheiro característico de final do dia no mercado de peixes. A fragrância do entardecer naquele dia de calor sufocante era cortada com rispidez pelo corpo suarento de Jaconildo. Andar elétrico voltava para casa após conferir o andamento dos negócios no mercado. Um momento de prazer quando as vendas iam bem, o momento de ranger os dentes quando o movimento era fraco.
Então lá ia ele na sua bicicleta velha costurando os obstáculos e as armadilhas das ruas que a prefeitura insistia em não resolver. Sabem como é: cidade sem recursos, petróleo não dá lucro. Tinha que ser rápido porque na sua casa Leogácia o aguardava. Depois de anos passando ao puro café ralo e pão para guardar dinheiro, ela já não possuía massa muscular e estrutura óssea para sustentar pequenos passeios pelo interior da casa. Isso era preocupante.
Não seria a primeira vez que encontraria a velha Leogácia esparramada no chão sem poder se levantar, entre o quarto e o banheiro, nadando nas necessidades que não podiam esperar para encontrar a saída. Poderiam pagar alguém para cuidar dela? Claro! Mas imagina se iam fazer isso, nem ele e muito menos ela desejariam isso. Desperdício de dinheiro. A água lava tudo pensavam. Mexer nas economias dói muito mais do que um tombo de vez em quando.
De tanto fazer corpo mole e, vistas grossas, Jaconildo conseguiu que o filho mais novo de Leogácia iniciasse uma ajuda. Ela já estava se tornando muito cara para seus parâmetros, tinha que dividir essa carga com alguém. Olivário era o nome do caçula, aquele que segurou o rojão. Não pensem que era má vontade da família, se dessem dinheiro eles juntavam, se contratassem alguém para ajudar eles dispensavam porque consideravam desperdício. Qualquer moeda que caísse do bolso naquele lugar não chegava ao chão.
No final Olivário apenas colhia alguns frutos plantados no passado. Afinal ele tinha o sangue de Leogácia, não ia ficar sem passar a perna na própria mãe algumas vezes. Retorno agridoce, um pouco de sal no melaço grudento daquela relação. Negócios são negócios a mãe a parte. Na relação custo benefício talvez até estivesse ainda levando vantagem. Vida errática gostos exóticos preços corrosivos. Naquele calor insano da região, misericórdia seria a morte antes da ação.