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Contos-->Contextos da usura. Parte sete. -- 07/12/2010 - 17:28 (Gerson Ferreira da Silva Filho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Sorria e dance com o encardido no mormaço.



Sublima na hora o suor que cai a terra naqueles dias de verão. Telúricas ondas são vistas dançando sobre a paisagem, que parece evaporar sob o sol impiedoso. Seria seu efeito aquilo que concentra o doce da cana, aquilo que faz do homem tão fervoroso ser no controle das suas posses? Faltava ali o frescor do equilíbrio, aquela aragem a refrescar o raciocínio. Leogácia viveu ali a maior parte da sua vida. No chão ressecado e poeirento plantou e colheu. Chorou e sorriu, e também viu o tempo ser consumido entre trapaças astutas que lhe trouxeram dinheiro, mas tornou seu corpo inconsistente. Para ela o limite teria ficado a quilômetros para trás.



Certa vez, ela, Leogácia fez negócio com um rapaz. Ele possuía um terreno, e ela uma moenda de cana. Acreditem ou não, ela conseguiu trocar a moenda pelo terreno. Bem; não sabia ela que o terreno provavelmente valia menos do que a moenda. Quando soube ficou enfurecida. O tal terreno ficava lá nos lados de Deus me livre, sem nenhuma estrutura, seu preço poderia ser comparado talvez nos dias de hoje a quatro cestas básicas. Não pensem que ela iria ficar com o prejuízo. O tempo passaria, mas dívida para Leogácia não envelhecia.


Para ela trapo e prego são sempre amigos. Sua filha mais nova Ludimila, aquela que fazia o trabalho pesado, a mesma que era surrada constantemente sem nenhuma razão aparente - somente aparente - porque Leogácia sabia muito bem porque fazia isso. Foi presenteada com o dito terreno. Presentão! Não valia nada, mas servia para jogo de cena. Afinal aquela era a filha mais dedicada, à custa dela Leogácia tinha economizado muito dinheiro que pagaria a pedreiro, servente pintor etc. Por que não fazer uma média utilizando nada? Para ela filhos só tinham valor se representassem lucro ou vantagem, como Ludimila havia casado e se mudado bastava por momento o engodo.


Mais de uma década se passou e Deus se lembrou de Deus me livre aquele lugar remoto na beira do nunca vi. Aquele lugar que valia o mesmo que político passou a ter importância. Tornou-se finalmente alguma coisa possível de ser transformado em um bom dinheiro. Ludimila nunca passou o terreno para o seu nome, a escritura, o serviço de cartório e mais o custo do deslocamento valiam mais do que o objeto em questão. Adivinhem o que Fez Leogácia? Tomou o terreno da filha alegando ter que ajudar a um neto um tanto destrambelhado que não conseguia manter o prumo na vida. Não venha sorrir para o demônio porque ele vai devolver o sorriso e se interessar por você.


A desgraça procura quem clama por sua companhia. Ludimila sabia que tudo aquilo não passava de outro jogo sórdido de sua mãe, portanto não esquentou a cabeça, quer ajudar quem não merece, então que ajude, afinal de contas, como prêmio, Leogácia vivia cercada de aproveitadores, e mesmo sendo muito esperta ninguém vence sempre. Quanto mais armações ela fazia, mais apareciam problemas para comer o dinheiro amealhado de forma maldita. Uma vida infame ela já levava. O jeito era deixar o destino cumprir seu curso, se meter nisso só atrairia coisa ruim. Distância da escuridão seria o melhor a ser feito. Apenas prontidão nas proximidades em caso da mãe precisar de ajuda, e mesmo assim se ela aceitasse.


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