Atravessava a avenida quando, de repente, uma rasgada de freio fez paralisar o automóvel no meio do caminho, ao lado direito do pedestre.
- Velho gagá, está me desafiando? Quer morrer? – falou irritado o jovem motorista.
- Da próxima vez, passo por cima.
- Passa não. Respondeu o velho Joaz.
- Passo sim.
- Passa não.
- Por que essa segurança toda, seu coroa?
- Porque se fosse esse o seu propósito, já o teria feito.
- Você é muito arrogante. Tente atravessar novamente, e verá o que acontece.
Tranquilamente, o velho voltou-se desafiando o motorista, diante do seu carro. O outro, ao volante, deu uma forte aceleração no motor, como se fosse cumprir a ameaça, enquanto gritava.
- Sai da frente, anoso, que lá vou eu!
O velho Joaz, insensível, continuou seu percurso sem ao menos olhar de viés. O rapaz estacionou o automóvel e foi papear com o ancião:
- É inacreditável sua ousadia. Por que agiu dessa maneira? Um cara do pavio curto poderia tê-lo molestado.
- A quem interessaria atropelar um velho pedestre e ainda mais sofrer as sanções da lei? A esta altura, meu garoto, estou liberado para cometer pequenas loucuras comigo mesmo. É até divertido, e não ofendo ninguém. Só me divirto.
- Vovô, você é muito estranho, você é ranzinza, não consigo entendê-lo, mas mesmo assim eu te amo. Tchau, coroa! Procure brincar menos perigoso.