A testa logo gotejava suor, quando ele pensava em ter que enfrentar a casa da namorada pela primeira vez. Não era para menos!
Aconteceu com o próprio pai. Deu-se a tragédia em situação igual. Permaneceu o trauma!
O velho, então principiante na arte do amor, relutou, mas acabou cedendo ao convite, imposição, da namoradinha de ele conhecer a família. De tão nervoso, ao chegar, sentiu extrema necessidade de aliviar a tensão por meio de um cigarrinho.
Não se sabe de qual jeito o acender do cigarro resultou em fogo nas cortinas atrás do sofá, onde havia se refugiado na tentativa de atenuar o suplício.
A visita acabou na fuga desesperada dele pelas escadas, e na chamada dos Bombeiros para a solução do tremendo incêndio.
Nunca mais seu Haroldo topou com a tal namorada. Agora, a questão era dele. Haveria de enfrentar o incômodo. Passar por cima do infortúnio, e praticamente vingar o pai.
Após desmarcar várias vezes a ida, alegando problemas de toda ordem, teve que concordar em engolir o desconforto, comparecer, por fim, ao “delicado” encontro.
Para complicar o seu lado, foi combinado um jantar. Ele faz restrição a esse tipo de confraternização porque não gosta de peixe nem de frango. Arroz, só o integral. Do feijão, não suporta sequer o cheiro. Salada, de jeito maneira, é uma questão de princípio. Então, a parada fica pra lá de dificultosa, não é? Vira uma tortura. E pior que isso, deve ser encarada de cara alegre, sem desfeita.
Lissa estava à porta, aguardando o rapaz. Gentileza mal calculada, em função de não lhe ter sido dada a chance de “respirar” antes da entrada.
Foi chegar e adentrar, de supetão, no susto. A dona da casa é colecionadora de tudo. De sapos de mentira a raros bibelôs. Até parecia que a casa foi “armada” para pegar o desavisado, de tanta coisa exposta, pronta para ser atingida e danificada.
- Ai, meu Deus! Aonde estou me metendo – resmungou ele ao vislumbrar o ambiente ardiloso.
A confiança começava a desmoronar. As pernas pediam assento. O filme da história do seu Haroldo rodava ligeiro em sua cabeça. As forças da vingança escorregavam-lhe pelo corpo.
Apesar da cautela, o indesejável ocorreu. Um vaso de porcelana chinesa, da Dinastia de não sei quem, “estrategicamente” colocado, causou a queda de Thiaguinho, quando tropeçou, com tudo, no belo exemplar. Os dois foram ao chão sem apelação. O vaso virou milhares de cacos. Jesus, Maria José! O que ele deveria fazer?!
Nada lhe coube além de se levantar da maneira que deu.
A família compreendeu bem o imprevisto, recebendo-o, ainda que desapontado, de braços abertos. A esportiva entrou em campo para simplificar a ocorrência. Alegou-se que não havia nenhuma importância quanto à quebra da peça. Que se danasse toda a Dinastia! Os dois irmãos de Lissa trataram de dar tranquilidade ao moço. A cervejinha passou a circular, e a apreensão foi baixando o nível.
Tudo ficou tão legal, que foram pedidas desculpas pelo local inconveniente de colocação do vaso. Foi melhor assim. O atropelo deve ser contornado para não estragar as relações, ainda mais aquelas que estão apenas começando. Vida que segue!
Agora, que a vermelhidão e o constrangimento de Thiaguinho foram engraçados, com todo o respeito, não ficou dúvida!