Há dias na vida que mais parecemos carniça em meio a tantos urubus.
O poeta estava naqueles dias, ninguém o entendia, as palavras se confundiam,
dando a impressão de conflito astral.
Olhou por céu, sol a pino, verão amazônico e nenhum urubu à vista.
Estariam eles em extinção?
Em sua área não tem feiras, mercados, lixeiras a céu aberto, estava realmente longe
do habitat daqueles animais tão queridos.
Nasciam brancos e mudavam as plumagens para o negro. Eram de utilidade pública
pela varredura que faziam, mesmo que em alguns lugares fossem banidos e expulsos com
foguetes pelo risco às aeronaves.
Lembrou-se uma história conhecida na cidade de Belém onde os urubus são amigos e
visitam uns aos outros.
Certo dia um urubu vindo da cidade de Soure fez parada no mercado do Ver-O-Peso, bastante conhecido.
Observou a briga constante entre eles por sobras de peixes quando a maré baixava.
Uma festa a céu aberto. Muito gentil ele convidou os amigos para que visitassem Soure,
lá não havia aquilo, tinha fartura e comida pra todos.
Um resolveu aceitar o convite e partiram.
Os dias passavam, muita calmaria e o urubu começou a ficar triste de tal maneira que
chamou a atenção do amigo.
“Amigo urubu! Você não está gostando daqui? Vejo tristeza em seu olhar, voar.
Está faltando comida? Não gostou da nossa Ilha, temos búfalos, muita beleza.
O urubu já quase sem jeito respondeu:
“Estou com saudades do Ver-O-Peso, temos
muita agitação e aquela gritaria me traz alegria, vou voltar amigo.”
O poeta pensava como estava sendo transformada sua vida.
Para uns não passava de um urubu em busca da carniça.
Para outros virara carniça, de tanto sugarem seu sangue, só restava a carcaça.
Não tinha mais alegria, via crescer a ingratidão, as agressões,
o ódio naqueles que a preocupavam mais.
Pareciam que tinham o rei na barriga.
Desconhecem que só a rainha pode carregar o rei na barriga, a plebe nunca.
Resolveu virar pavão, aquele pássaro lindo com uma plumagem de dar inveja,
Tem um andar de superioridade e beleza.
Ah! A natureza nos dá lições que devemos acatá-la e nunca se deixar levar por pena
A tantos ingratos que se tornam ervas daninhas.
Pobre seres humanos.
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Manaus, 05 de setembro de 2011.
Nota da autora- Todos os dias rogo a deus que nunca me tire a capacidade de raciocínio, de transformar o ódio em mensagem, em poemas que sirvam e ilustre a vida de tantos
humanos que de barriga cheia esquecem o prato de comida que lhe foi servido. Ana Zélia