Por volta de meio-dia, no restaurante, pediu uma taça de vinho enquanto aguardava o almoço que encomendara. Pouco depois que o garçom lhe trouxe o vinho, uma mosca invadiu a taça, precipitou-se no recipiente, e debatia-se em seu interior encharcada de vinho. Caio divertia-se com o desespero do pequeno inseto. Introduziu o dedo no copo, e cuidou de salvá-lo, enquanto o observava sacudir-se sobre a mesa, e voar em seguida. O garçom trouxe outra taça com vinho.
Na mesa vizinha, uma bela mulher insistia em espreitá-lo com um sorriso provocante. De acordo com seu feitio, normalmente, tê-la-ia convidado, na mesma hora, a fazer-lhe companhia, disposto a desfrutar maiores intimidades, no entanto, abaixou a cabeça, imerso em seus pensamentos, e ela desistiu desapontada com a indiferença de Caio.
Seu pensamento trabalhava em outra área bem distante daquele recinto. “É preciso fazer o que tem de ser feito”, pensava consigo. Bebeu todo o vinho de um gole e pediu outra taça. O garçom, que o observava de longe, ao perceber sua inquietude, não resistiu à tentação de iniciar um diálogo com Caio.
– Posso ajudá-lo em alguma coisa, senhor?
– Acaso lhe pedi ajuda?
– Desculpe. É que pensei que não estivesse satisfeito com os meus serviços.
– Tudo bem. Não é nada... Preciso fazer o que deve ser feito.
– O quê, senhor?
– O que deve ser feito.
– E o que deve ser feito? Posso ajudar?
– O que deve ser feito, somente eu posso fazer.
– Com licença; vou pegar seu almoço. O garçom voltou-se para o balcão do hotel e foi buscar o almoço do estranho cidadão, intrigado com aquele absurdo diálogo. “Afinal, o que deve ser feito?” pensou o garçom em voz alta.