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Contos-->Entre o Corpo e a Parede -- 11/05/2001 - 16:33 (Iara Lima Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Contemplei seu corpo seminu que ficava à mostra na piscina. Era noite e a luz do holofote acentuava as gotas que lhe escorriam pelo pescoço, dorso e braços. Sua pele, moreno-canela, parecia suave, convidativa. Ele tinha metade do corpo fora d’água enquanto apoiava seus braços na borda da piscina.

Imaginei-me então entre aquele corpo e a parede. Gostaria que só restasse entre mim, a parede e o corpo, um mínimo de água que diminuísse o atrito, que suavizasse seus movimentos enquanto eu simplesmente deixaria que ele me conhecesse, que encaixasse e repousasse suas coxas entre as minhas, que me envolvesse em braços, pêlos, rosto, mãos.

Lentamente então, ele se movimentaria para cima e para baixo, e direita e esquerda tentando me fazer reconhecer em si mesmo. Não falaríamos coisa alguma. Seria possível apenas ouvir o som de minha respiração já alterada e a água que se movimentaria num doce balanço enquanto tentaríamos reconhecer nossos corpos, tensos e molhados, dentro de uma piscina à noite sob a luz dos holofotes tendo a Lua por testemunha.

Ele não me beijaria a boca. Passaria entretanto seus lábios sobre minha testa, olhos, maçãs do rosto, queixo...até se dirigir a meu pescoço, onde poderia constatar, mais uma vez, minha excitação através de minhas veias um tanto quanto saltadas.

Naqueles breves instantes em que me imaginei entre a parede e o corpo não desejei que ele me possuísse. Desejei apenas senti-lo, descobrir cada reentrância de sua pele, que me parecia tão suave e convidativa. Desejei apenas ser colocada de encontro a seu corpo e a parede, preenchendo aquele vácuo que parecia à minha espera.

Desejei sentir seu cheiro, o odor daquele homem moreno-canela, o barulho de sua respiração e a textura de suas mãos percorrendo territórios inexplorados. Desejei apenas estar impune, ser sua por um breve instante, deixar-me ser desnuda e descoberta, desprotegida de mim mesma nos braços daquele homem que sequer sabe meu sobrenome.

Desejei descompromissar-me de todo o controle possível entre uma mulher que anseia um objeto de desejo e permitir-me à luxúria que me sugeria a cena: um homem e uma parede a me convidar a preencher e ser preenchida: uma mulher preenchendo aquele espaço, aquele instante, entre o corpo e a parede.
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