Guaxinim. Assim era conhecido um perigoso morador de Bodocó, cidade onde, em 1984, Raimundo Diniz dos Santos, conhecido por Diniz, foi passar o carnaval. Filho natural dali, mas radicado no Recife há muitos anos, volta e meia Diniz dava um pulo em sua terra natal.
Bodocó é uma cidade do agreste pernambucano, que fica na divisa com o Ceará, na Região do Cariri, estremando com a cidade cearense de Campos Sales.
Pois foi em Bodocó que Diniz passou o carnaval de 1984, com já dito. No último dia de festa, terça-feira de carnaval, resolveu ir para o clube da cidade, que há muito não freqüentava, e de lá tinha boas lembranças de sua juventude, quando se embalava nas tertúlias dançantes dos anos 60, começo da década de 70, época que fora embora para o Rio de Janeiro, e posteriormente fixar residência definitivamente na capital pernambucana, no começo de 81.
À tarde, foi para a praça da cidade e ficou bebendo com os amigos, alguns deles há muito não via. Beberam, à tarde toda, entrando pela noite, até a hora de começar a festa. Quando junto com vários deles foi para o clube da cidade. Todos já bastantes altos. Alguns embriagados mesmo. Antes de entrarem no clube, ainda passaram na mercearia do Zé Ivan e beberam mais uns goles de cachaça.
Ao entrar no clube Diniz dá de cara com um primo Leo, que imediatamente o levou para o bar. Onde continuou a beber cerveja, vinho. O que aparecia. Chegaram até mesmo a dar uns cheiros na loló.
Muito embriagado, Diniz foi para o salão, onde começou a pular. Pula daqui, pula dali, não se sabe como ele começou uma discussão, e simplesmente com o famoso Guaxinim. A turma do deixa pra lá apartou a confusão. Guaxinim ficou por ali, mas Diniz, que na confusão perdera os óculos não se conformava, dizendo para Guaxinim, sem recolhê-lo, de tão embriagado, que iria matar o sujeito com quem discutira antes. Guaxinim não dava a mínima. Apenas ria.
No dia seguinte, ainda de ressaca, Diniz foi ao clube à procura dos óculos. Na volta, encontra outro primo, Alfredo, que já sabia da notícia e pede a Diniz para ter cuidado.
- Guaxinim é muito perigoso e vingativo, disse-lhe Alfredo.
- Ao que Diniz respondeu: Como vou tomar precaução se não conheço o sujeito e se o vir não terei como reconhecê-lo, pois quando da confusão estava muito embriagado.
O caso terminou por aí. E na quarta-feira de Cinzas, Diniz voltou para Recife.
Tempos depois, Diniz voltou para passear na sua terra e novamente passar alguns dias com os amigos, curtindo umas merecidas férias. Por lá ficou vários dias, e não houve qualquer problema, até mesmo tinha esquecido o incidente com Guaxinim.
Numa bela tarde, Diniz estava no campo de futebol para jogar uma pelada. Feita a escalação dos times, ficou faltando um jogador para um dos lados. Mesmo assim o jogou começou, e o primeiro jogador que chegasse entraria para completar o time que tinha um jogador a menos. Regra de pelada.
O tempo foi passando, o jogo correndo e nada de aparecer outro atleta para completar o time de Diniz.
Ainda no primeiro tempo, por trás da trave contrária a do time defendido por Diniz, surge caminhando lentamente, por uma vereda, um sujeito com uma espingarda nas costas. Um jogador do time de Diniz, diz:
- Entra para o nosso lado, Guaxinim. A gente ataca para esse gol aí.
- Lívido de medo, Diniz baixinho exclamou: Morri, mas continuou jogado, rezando para não ser reconhecido pelo Guaxinim.
Guaxinim, tranqüilamente, encosta a espingarda numa das traves e entra para jogar.
Diniz morrendo de medo de ser reconhecido, mas para agradar Guaxinim, toda bola que pega lá atrás metia para o Guaxinim e gritava:
- Vai que é tua, Guaxinim.
Anos mais tarde, Diniz veio a saber que Guaxinim fora morta num confronto com a polícia.
Henrique César Pinheiro
Fortaleza, novembro/2012.
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