Silvestre chegou cansado de mais um dia de trabalho duro na agricultura, por volta das cinco horas da tarde. Depois de chegar em casa, mesmo cansado, ainda percorreu uns quinhentos metros ladeira abaixo para ir buscar água para consumo da casa e para um bom banho.
Aquela hora da tarde, a água estava muito fria, pois o Sol não se punha, mas seu raios pouco alcançavam as águas cristalinas do riacho, protegidas pelas serras e a vegetação cerrada. Portanto, a caminhada era excelente para abrandar a frieza da água na hora do banho, por aquecer o corpo, já que banho quente não havia na sua humilde casa. Se bem que na casa, assim como na cidade de uma maneira geral, banho quente a não ser quando se colocava a água para aquecer um pouco e quebrar mais a frieza, pois chuveiro elétrico nem se conhecia por lá. A própria energia da cidade vinha de um pequeno gerador a óleo diesel, que funcionava das dezoito às vinte e duas horas.
Depois do banho, Silvestre e a família, uma reca de dez crianças e a mulher, o mais velho tinha uns quatorze anos e o mais novo uma criança ainda de colo, prepararam-se para comer o pequeno jantar, composto de cuscuz, feijão com toucinho, arroz, e alguma verdura colhida da pequena horta que mantinha em casa.
Logo após o jantar, Silvestre sempre ligava o rádio Semp à pilha, um luxo que poucos tinhas, para escutar a Voz do Brasil. Dali do seu quintal, ouvindo a Voz do Brasil, também apreciava as estrelas, e o canto das aves noturnas, enquanto aguardada a mulher lavar a louça do jantar, com o restante da pouca água que sobrara do banho de Silvestre, e botava a reca de filhos para dormir, para depois o casal se recolher ao seu pequeno quarto.
Silvestre aguardava ansioso, para ir para o quarto, pois queria dar uma com a sua Maria, mesmo depois de um dia de trabalho estafante no roçado, que começava invariavelmente às cinco horas da manhã. Antes de ir pegar na inchada, por volta das sete horas, tinha que buscar água no pequeno córrego para encher os potes, só depois disso é que começava a jornada de trabalho propriamente, que se estendia até cinco horas da tarde, com um pequeno intervalo de uma hora para comer a pouca refeição que leva consigo, feita pela mulher logo de manhã cedo, que consistia de arroz, feijão com toucinho e rapadura.
O casal morava numa pequena cidade do interior do Ceará, tão pequena e pobre que não tinha Bradesco, Casas Pernambucanas, a maior rede de lojas do País naquele tempo, hoje restrita a algumas lojas na região Sul e Sudeste, e nem cabaré. Por incrível que parece, na cidade não tinha cabaré, como até hoje não tem. Embora esteja repleta de quengas hoje em dia.
Não tinha cabaré e as putas que havia na cidade também eram poucas. Umas duas ou três. Havia algumas mulheres casadas que metia chifre nos maridos, mas aí é outra conversa. Mas puta de ofício, aquela que cobra para trepar, poucas, pouquíssima. Até mesmo veados era raridade. Meia dúzia, se muito. Hoje não, a conversa é bem diferente. Puta e homossexual é o pau que rola.
Mas voltando ao nosso tema, Silvestre aguardava lá fora no quintal que a mulher fosse se deitar no pequeno quarto do casal. Quarto bem simples: uma cama com colchão de palha, um lampião a gás, um pequeno baú onde eram guardadas as poucas roupas de toda a família. No chão do quarto dois pares de sandálias. Uma de sola e outra feita de pneus de carros. Essa de Silvestre, mais resistente para evitar furar os pés em tocos e pedras no roçado, que não o protegia, entretanto, de ataques de cobras e insetos.
Finalmente, a mulher terminou seus afazeres e foi para o quarto. Logo depois Silvestre também foi se deitar.
Antes de se deitarem, entretanto, rezaram juntos um pai-nosso, uma salve rainha e uma ave Maria. Terminado o rito religioso, deitaram-se e Silvestre já foi se chegado para a mulher e começou a lhe fazer uns carinhos. Não correspondidos. Insistiu. E nada. Depois de muito insistir a mulher disse:
- Hoje não, Silvestre. Estou muito cansada e com dor de cabeça.
Silvestre puto da vida, ainda que completamente estafado, não sei nem se havia esse termo na época, se levantou da cama e saiu porta à fora. Porém, antes de chegar à rua, da porta mesmo, gritou:
- Já que não tenho mulher em casa para me satisfazer, vou à rua procurar uma puta. Talvez encontre a Valquíria. E saiu porta afora.
Vendo o marido decidido, Maria correu para a porta e gritou:
- Volta, Silvestre, volta, que te dou priquito o quanto tu quiser.
Silvestre, do meio da rua, possesso, se virou para a mulher e disse:
- Agora não quero mais a porra do teu priquito. Mete teu priquito no cu.
E foi dormir na casa da Valquíria.