O coração ainda pensava em Talita que, pouco lhe telefonava. Como estaria a maninha? Robert não podia tocar neste assunto com Morgana. Ela quis saber da mãe dele, e quando lhe disse que morrera há dois anos, ficou besta. “Dona Sophia?!... Conhecia-a muito de nome.” Mas o momento não cabia lágrimas. O filho de D. Sophia acompanhou de perto o sofrimento da mãe que contraíra um câncer de ordem emocional, depois de aderir ao Plano de Demissão Voluntária oferecido pela empresa em que trabalhava. Robert insistiu muito para a mãe não aderir ao PDV, mas dona Sophia!...Dona Sophia quando tomava uma decisão, não voltava atrás!
O celular repica insistente... A demora de Morgana para abrir a bolsa e aceitar a ligação o deixou ansioso. Ela percebeu e sentiu a preocupação dele com a voz masculina do outro lado. Desligou e chamou Gabriela. Atento, Robert apanhou uma minúscula abelha-preta que zunia mexendo as patinhas e sacudindo as asas, entre um e outro morrico da meia-taça de Morgana. “Cuidado, não se mexa!” E deixou a ponta de seus dedos tocarem suave e delicadamente nos seios dela. Tanto alarido e suspense por causa de uma inofensiva abelha sem ferrão. Por certo, ele desejou ser uma abelha chien e passear livremente sobre aqueles seios pontiagudos como de uma cabra de primeira parição.
A brisa soprava levemente. O sol mergulhou no mar e eles trocaram o primeiro beijo...
— Deixa-me partir, porque a aurora já vem, disse ela.
Morgana jamais fora assim, tão formal. Decerto, queria provocar o engenho poético de Robert, que outrora vencera vários concursos de poesia promovidos pelo Marista.
— Aceito a penitência de te deixar partir, contanto queeu possa ir contigo.
— Perfeitamente, Romeu, disse a moça.
Riram.
A tarde fez-me noite mais cedo, e a noite, menina. Morgana dormiu e no outro dia Robert levantou antes que a patativa cantasse. Precisava ir ao escritório, passar as últimas recomendações ao substituto, e providenciar os passaportes.

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