Segunda parte das declarações dadas por Rafael de Souza Castro, menor, 17 anos, vítima de sequestro, cárcere privado, tortura e violência sexual. A vítima foi sequestrada em Volta Redonda-RJ no dia 8 de março de 1982. Nesta 2ª parte, a vítima fala do primeiros abusos e da primeira tortura. As declarações foram dadas ao delegado Joaquim Habour, responsável pelo inquérito policial que apura o caso conhecido com “Os horrores na Casa do Alto do Morro”. Para ler a primeira parte dessas declarações, clique aqui
Eu gostaria de retomar as perguntas exatamente do ponto em que paramos. Ele voltou à cela quanto tempo depois?
Não sei dizer. Deve ter sido no final daquele dia. Eu já tinha almoçado e feito um lanche mais tarde.
O almoço foi servido na cela?
Foi.
E aí?
Ele entrou e sentou na cama onde eu estava deitado e disse que ia me comunicar algumas regras. Disse que a quebra de qualquer uma delas resultaria em castigos. Ai ele começou a falar elas.
E você ainda se lembra dessas regras?
Claro! Todos nós tivemos de aprender elas rapidinho para não ser castigados. Ou pelo menos para não ser castigados com tanta frequência. Depois que tinha mais gente la, um ajudava o outro a decorar elas.
Então, toda vez que chegava um novo prisioneiro, ele repetia as regras?
Exatamente. Do mesmo jeito.
E quais eram?
Eram muitas. A primeira foi sobre tentar fugir. Disse que não havia como escapar dali porque a gente estava no meio do mato e o morador mais próximo ficava mais de cinco quilômetro dali. Disse também que os muros tinham cercas elétricas e eram vigiados por câmeras. E que depois dos muros havia uma floresta e que se por um milagre alguém conseguisse sair dos muros, os cães de caça iam me caçar e eu seria morto por eles. Ai depois disse que se eu tentasse fugir ele ia me castrar na hora e cortar o meu pinto fora, sem anestesia sem nada. Mas que antes ia queimar meus ovos e que eu ia sentir tanta dor que eu ia me mijar e me cagar todo. Essa foi a primeira regra que ele disse.
Quanto a isso, ele não mentiu. Não morava mesmo ninguém ali por perto. E de fato os acessos à casa eram monitorados por câmeras. E as outras? Tinham mais, não tinham?
Tinha. Se ele me mandasse fazer algo, por mais insignificante que fosse e eu não obedecesse, levaria chicotadas. Se eu tentasse bater nele, eu ia me amarrar e eu levaria chute nos ovos ou dependendo da gravidade do que eu tivesse feito, ele ficaria agulhas em mim. E nos lugares que doesse mais.
E ele foi mais específico?
Foi sim. Apontou para o meio das minhas penas e disse: principalmente aí. Eu me lembro que na hora eu gelei.
Eu gostaria de focar minhas perguntas nesses castigos, já que você foi um dos que mais sofreu com eles. Você acha que seria capaz de relatar eles. Aliás, de acordo com as informações que disponho esses castigos na realidade eram verdadeiras torturas.
Eram sim. Todos nós fomos torturados, muitas vezes por puro prazer. Uns mais outros menos. Mas todos foram. Até o Marcelinho que só tem 9 anos.
Esse garoto foi entrevistado por um psicólogo experiente em lidar com esse tipo de situação. E ele acabou nos revelando muitas coisas que depois precisamos confirmar com você e os outros. E quando foi o seu primeiro castigo?
Foi quando eu recusei a chupar o pinto dele.
E você poderia dizer como foi?
Ele entrou na cela pelado. Sabia que ele vinha fazer alguma coisa comigo porque ele já tinha feito antes.
O que ele havia feito?
Foi no dia anterior. Tudo começou um pouco mais cedo. Ao invés de desenho animado, começou a passar filme erótico na tv. Ela ficava quase o tempo todo ligada, passando desenho. Só era desligada na hora da gente dormir.
Naquela que ficava do lado de fora da cela?
Isso.
E então?
Depois de algum tempo ele apareceu. Estava pelado. Aí ele entrou, sentou na beirada da cama onde eu estava deitado e puxou a colcha que me cobria. Eu estava...
Excitado. Por causa do filme.
Isso.
Certo. Qualquer um ficaria. Nós homens não temos como não ficar. Afinal nossos estímulos sexuais são imediatamente afetados pelas imagens eróticas. Por isso as mulheres se preocupam tanto com a aparência e a sensualidade. E o que ele fez?
Pegou o meu pinto, mexeu nele e disse: quanta virilidade! E antes que eu pudesse fazer alguma coisa ele abaixou a cabeça e enfiou ele na boca e começou a chupar.
Ele fez isso com os outros meninos também?
Fez.
O relato dos outros garotos confirmam isso. E depois?
Ele se levantou e saiu.
E não disse nada?
Disse sim. Disse que era saboroso e abundante. Foi aí que eu entendi porque ele tinha me sequestrado. Para abusar de mim.
Voltando à primeira vez em que você foi castigado. Você se recusou a praticar sexo oral?
Recusei. Ele me mandou sentar na cama e ficou parado bem na minha frente. Aí ele disse: agora você vai fazer igual eu fiz em você ontem. Eu disse que não queria, que ia fazer, que não ia enfiar aquela coisa nojenta na boca.
E o que ele fez?
Ele pegou minha cabeça e puxou até que minha cara ficou encostada no pinto dele. Aí ele disse: Anda, Chupa! Eu fechei a minha boca e não me mexi. Ai ele disse que se eu não chupasse, ia ser castigado. Preferi ser castigado. Não ia enfiar de jeito nenhum aquela coisa mole, toda enrugada na minha boca. Não mesmo!
Ai ele te castigou?
Castigou.
De que forma?
Ele me largou e saiu da cela. Pensei que ele tinha desistido. Mas não. Voltou logo depois com Juarez. Os dois entraram e Juarez agarrou as minhas pernas e me virou de costas. Ai ele levantou o chicote que estava na mão e me deu uma chicotada nas costas. Nossa, como doeu! Queimava. Ai ele disse: Isso para você aprender a não me obedecer. Quando eu te mandar fazer algo, é para fazer sem questionar. Entendeu? Ai me deu outra chicotada na bunda. Doeu tanto quanto a primeira. Ai ele repetiu: Entendeu? Responde! Ai eu respondi que sim. Ai ele me deu outra na bunda e disse: essa é para você não esquecer. Então eles me soltaram e saíram. Eu fiquei lá, chorando de dor, raiva e ódio daquele homem. Depois, quando olhei onde ele tinha me batido, tava inchado e tinha ficado as marcas roxas.
Sei. Normalmente, quando se leva uma chicotada, ficam os vergalhões. Mas vamos continuar. Vou te fazer só mais algumas perguntas por hoje. Ou você gostaria de parar por aqui. Se não quiser continuar não tem problema. Deixemos para depois.
Preferia continuar em outra data.