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 | Contos-->A cafeteira -- 29/08/2013 - 03:15 (Brazílio) |  |  |  |  |  |
 | Sabia que o bule verde esmaltado, todo pomposo, lhe havia tomado o lugar, mas 
 ela não perdia a velha elegância. E já nem mais frequentava a mesa, relegada que
 
 fora à prateleira, dividindo espaço com as latas de mantimento, a máquina de moer
 
 carne e até ele, o já arcaico, mas bem prosaico, almofariz de bronze. Cafeteira,
 
 quanta história tinha pra contar!
 
 Feita dum metal estanhado, mantinha o perfil longilíneo, mesmo tendo abrigado
 
 tanto café em seu bojo. E a bem da verdade, para si, até que dessa danada
 
 rubiácea, tinha até nojo. Mas nada falava. Recebia-o quentinho e até o fundinho
 
 o ministrava, indiscriminadamente a copos de latão, a xícaras de louça nalguma
 
 solene ocasião. O que não tolerava, mas nem o bico abria, era quando não se a
 
 lavava. Brava ficava, de bico empinado.
 
 Viu tanto bolo ser esquartejado, tanto queijo fatiado, tanta quitanda em seu
 
 passado. Pão com manteiga era o mais frequente, pra ir com o café quente. Mas
 
 numa ocasião festiva, de pão a bandeja era esquiva, abarrotada que ficava de
 
 biscoitos fritos, de ovinhos de cutia e até da panhoca, de que pouco se ouve hoje
 
 em dia.
 
 Nas mãos de Dona Inhana, de menina recém-casada, a bisavó já anunciada, sentia
 
 a digna cafeteira a carícia lisonjeira. E mesmo hoje, do cantinho da prateleira,
 
 ainda se lembra, se refestela da boa vida que era aquela, ainda que - sem bule e
 
 sem bulício - tão singela.
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