Terceira parte das declarações dadas por Marcela Miranda, menor, 16 anos, vítima de sequestro, cárcere privado, tortura e violência sexual. Nesta 3ª parte, Marcela descreve as torturas e os abusos sexuais que sofreu.. As declarações foram dadas ao delegado Joaquim Habour, responsável pelo inquérito policial que apura o caso conhecido com “Os horrores na Casa do Alto do Morro”. Para ler a primeira parte dessas declarações, clique aqui
Queria que você falasse sobre a primeira vez que ele te violentou. Você acha que é capaz de contar como foi?
Sou sim. Foi uns dois dias depois.
E como foi?
Ele tornou a me levar para aquele lugar e me amarrou da mesma forma. Ele gostava de fazer isso. Ele vivia amarrando a gente, mesmo sem necessidade. Aí ele olhou para mim e disse que tinha chegado o grande momento. Quando ele disse isso eu comecei a chorar porque sabia do que ele estava falando. Ele me disse aquilo rindo e ao mesmo tempo com um olhar estranho. Aí ele virou por cima de mim e tentou me beijar. Mas eu virei o rosto. Ele não gostou e me deu um tapa bem forte na cara e disse que eu era escrava dele e que estava ali para satisfazer ele. Portanto tinha de deixar ele fazer o que quisesse.
Sei. E então?
Ele disse que se não beijasse ele, ele ia apanhar o chicote e me deixar com mais marcas que da outra vez. Olhei para a parede e lá estava o chicote que ele tinha usado da outra vez. Fiquei com medo e, apesar do nojo, acabei deixando. Depois de me beijar, ele começou a chupar os meus peitos e a apertar eles com a mão. Aí ele parou e se agachou atrás de mim. Então senti a mãos dele na minha xana. Ele ficou mexendo nela por um tempo e depois pois a boca lá e enfiou a língua em mim.
E depois disso ele a violentou?
Foi. Primeiro ele pegou o pinto dele e ficou passando ele nela, sem enfiar. Mas depois eu senti ele ajeitar ele e ir me enfiando bem devagar. De repente começou a doer e eu disse "ai, tá doendo" pensando que assim ele fosse parar, mas não. Isso fez foi ele enfiar mais. Aí senti uma pontada forte como uma fincada e ele parou. Aí eu percebi que ele tinha tirado a minha virgindade.
E ele o que fez?
Ele ainda estava meio que ajoelhado atrás de mim. Aí olhou nos meus olhos, deu um sorriso e foi deitando em cima de mim. Isso fez ele enfiar ainda mais em mim. E doeu. Doeu muito. Eu gemi e comecei a chorar de novo. Foi ainda pior. Ele me apertou e forçou dizendo: Isso! Grita mais! É assim que eu gosto. Eu comecei a gritar de desespero e implorar para ele parar, que estava doendo e que ele estava me machucando. Nossa! Como doía! Mas ele não parava. Parecia fazer ainda com mais força, como se ele estivesse possuído. Foi terrível.
Esse é um dos traços do sadismo. Quanto mais dor a vítima demonstra, mais prazer o sádico sente e mais tenta provocá-la. E depois que ele te violentou?
Ele saiu de cima de mim e foi me examinar. Eu chorava muito. Perder a virgindade daquela forma? A gente sempre imagina que será uma coisa romântica, com alguém que a gente ama.
É muito doloroso. Mas prossiga.
Me lembro perfeitamente quando ele saiu de mim. Foi um alívio. Então ele ficou me examinando e mexendo em mim como um ginecologista. Ele disse algumas coisas que não me lembro direito. A única coisa que me lembro foi quando ele disse: só um pequeno sangramento. Nada sério! Ai ele me desamarrou e colocou as algemas em mim e disse para eu voltar para a cela. Fui andando na frente e ele atrás.
Ele te levou de volta e te trancou lá de novo. Nesse intervalo ele não disse nada sobre o que tinha acabado de fazer?
Disse sim. Ele falou meio que rindo: tivemos a mais incrível experiência hoje. Não foi franguinha? Sei que para você não deve ter sido fácil, mas com o tempo você se acostuma. A primeira vez é sempre a mais difícil. Vai ter muito tempo para você se acostumar, cadelinha! Ai me deu um tapa na bunda. Quando ele disse isso, a gente já estava diante da minha cela. Entrei. Cai na cama e chorei não sei por quanto tempo. Se eu tivesse como, acho que eu teria me matado ali. Mas eu não tinha veneno para beber, não tinha nada para me cortar e nem mesmo alguma coisa para eu me enforcar. Portanto só me restava esperar.
Então você chegou a pensar em suicídio?
Não só naquela vez, como em outras também. Só passei a me conformar com a minha situação quando a Sandrinha foi colocada lá.
Tudo indica que ela foi a segunda vítima. Sobre ela vou te perguntar daqui a pouco. Antes quero saber mais sobre os abusos que você sofreu. Precisamos saber a frequência deles. Isso vai permitir que o juiz possa aumentar a pena dele. Podemos prosseguir?
Podemos sim.
Quando foi que ele tornou a te violentar?
Eu não tinha como contar os dias. Para ter uma ideia de quanto tempo eu já estava presa ali, eu fazia a seguinte conta: se eles me davam de comer 4 vezes ao dia, sendo que a primeira era um café com pão e algumas bolachas e depois comida, depois café de novo e por último comida, então um era o café da manhã, a refeição era o almoço, o outro café era o da tarde e a outra refeição era a janta. Foi a conclusão que cheguei.
Você tem razão. Era isso mesmo.
No começo eu fiquei em dúvida, mas depois vi que era assim mesmo. Ai eu comecei a contar os dias arrancando um fio de cabelo e guardando junto com os outros. Foi assim que a gente sabia quantos dias estava presa.
Certo. Mas vamos focar nos abusos. E quando ele tornou a abusar de você.
Dois dias depois.
Nesse período ele não foi a sua cela?
Foi sim. No mesmo dia que ele me violentou. Acordei com ele me tocando. Fiquei apavorada porque pensei que ele fosse abusar de mim novamente. Mas ai vi que ele tava com cara de quem ia fazer isso novamente.
Como você soube?
Porque o pinto dele tava pequeno e todo encolhido.
E o que ele fez.
Ele mandou eu abrir bem as pernas para ver como estava. Na hora eu não obedeci, mas ai ele disse que não ia fazer nada comigo, que por enquanto ele estava mais que saciado. Então eu obedeci. Sabia que se não obedecesse, ele ia me castigar. Ele me examinou e depois me mandou tomar um banho e saiu. Ai só apareceu no outro dia. Tornei a pensar que dessa vez ele tinha vindo para abusar de mim novamente, mas não. Tornou a me examinar e disse que eu já estava pronta para outra. Riu para mim e disse que infelizmente estava com um pouco de dor de cabeça e não podia fazer esforço. Por hoje você me escapa, foi o que ele disse.
E voltou no outro dia?
Sim. Eu tentei escapar dele, correndo de um lugar para o outro, implorando para ele não fazer aquilo de novo. Dei até um empurrão nele. Ai ele chamou o Juarez. Ele veio correndo com um chicote na não. Ai ele disse para o Juarez: me da isso aqui. Ai eu só senti a chicotada.Me acertou bem do lado. Foi uma dor terrível. Ai eu agachei e me encolhi toda, implorando para ele não me bater. Então ele me bateu de novo dizendo: aprende uma coisa, vadiazinha! Se não me obedecer vai apanhar. Tomei quatro chicotadas nas costas. Ai ele mandou o Juarez sair. Pensei que ele ia me algemar e me levar pra aquele quarto de novo, mas não me levou.
Ele te violentou ali mesmo?
Sim.
Da mesma forma?
Não. Diferente.
Você acha que seria capaz de descrever como foi?
Tenho que fazer isso?
Seria importante, mas se você achar que é muito doloroso, a gente apenas faz o registo de que você foi violentada novamente. Mas num julgamento, esses detalhes são fundamentais para convencer os jurados.
Tudo bem então. Se não tem outro jeito!
O fato ocorreu ali no chão mesmo?
Não. Na cama.
Na que você dormia?
Não. Em outra. Quando ele começou a me bater eu estava do outro lado. Bem lá no canto. Perto da outra cama. Ai ele pegou e me jogou de bruços na nela. Pegou minhas mãos e amarrou para que eu não conseguisse virar ou escapar. Pensei que ele ia amarrar minhas pernas, mas ele não amarrou. Apenas deitou em cima de mim e me agarrou pelos cabelos. Eu estava desesperada, porque sabia que ele ia me machucar novamente. Eu podia sentir o pinto duro dele no meio da minha bunda. Era só ele abaixar que dava para enfiar na minha xana por trás. Pensei que ele fosse fazer assim. Lembro que imaginei que ele ia me machucar ainda mais desse jeito. Mas eu não tinha como escapar. Por isso eu implorava para ele não me machucar, para ele fazer devagar. Eu sabia que ele ia fazer. Então, que pelo menos fizesse devagar. Mas ele não enfiou. Ele puxou os meus cabelos para trás e levantou a minha cabeça. Ai ele disse: vadiazinha selvagem. Se você fosse um animalzinho dócil ao invés dessa brabeza toda, as coisas seriam bem mais fáceis para você. Mas eu gosto disso! Me faz ser mais malvado ainda com você.
E o desgraçado ainda se vangloriava do próprio sadismo. Faz disso uma virtude. Quero ver ele se vangloriar de seus feitos quando estiver atrás das grades. E pode estar certa, mocinha: Nós vamos pegar esse filho da puta.
É tudo que mais desejo.
Só para encerrar essa parte, eu gostaria que você tentasse, mesmo que superficialmente, como ocorreu o ato.
Por alguns momentos ele ficou se mexendo e esfregando o pinto dele no meio das minhas nádegas. Ai ele se levantou e então senti a mão dele nelas. Ele puxou elas para os lados e disse que eu tinha um traseirinho delicioso. Na hora não entendi o que ele estava querendo dizer. Mas pouco depois entendi. Ele cuspiu no dedo e passou ele no meu “buraquinho” ali no meio.
No seu ânus?
Isso. Então ele enfiou o dedo nele. Não doeu, mas foi esquisito. Ai ele ficou mexendo o dedo lá. Depois tirou, acho que cuspiu nele novamente. Eu estava com a cabeça apoiada na cama e não dava para ver, mas acho que ele cuspiu sim. Depois, tornou a enfiar. Dai, quando ele tirou o dedo novamente, senti o pinto dele ali. Pensei: Meu deus! Ele vai me machucar ainda mais. Então senti o pinto dele entrando. No começo, não doeu tanto. Acho que é porque ele estava pondo ele bem devagar, mas quando ele deitou em cima de mim começou a doer. E quanto mais ele punha, mais doía. Quando ele pôs tudo, ele parou. Ai ele enfiou uma mão por baixo da minha barriga até a minha xana e enfiou o dedo nela. Com a outra ele agarrou um dos meus peitos. Ai ele começou a se mexer, a mexer o dedo na minha xana, a apertar o meu peito e a me lamber o rosto, enfiar a língua na minha orelha e a dizer umas coisas que eu não me lembro. Que nojo, aquela língua nojenta na minha orelha. E ele ainda gemia e babava. Quanto mais ele mexia, mais doía. Eu só me lembro que pouco antes de terminar, ele começou a me morder. Mordeu a minha orelha e depois o meu pescoço e o meu ombro. E ele mordia com força. Doía muito. Tanto que fiquei com aquelas marcas por um tempão, acho que uns cinco dias.
Tudo bem. Já é o bastante. Se acalme! Sei que é terrível para você relembrar esses momentos. Mas são esses depoimentos que vão manter esse monstro na cadeia pelos próximos 30 anos e talvez para o resto da vida. Quer um copo de água?
Quero sim.
Então vamos fazer o seguinte: vamos dar uma pausa de alguns minutos para você se acalmar. Vai até lá em baixo e toma um cafezinho com a sua mãe, conversam um pouco. Isso vai aliviar sua tensão e te deixar mais calma. Tô vendo que você está muito tensa.
Tô sim! Passei coisas terríveis nas mãos daquele monstro. Só de lembrar delas eu já fico nervosa e com vontade de chorar. Me dá medo. É como se a qualquer momento pudesse acontecer tudo de novo.
Entendo. Por isso a gente procura ir aos poucos. A hora que você quiser parar, é só dizer. A gente pára e depois quando você estiver em condições, retomamos.
É eu sei.
Vai lá, fica com a sua mãe um pouco. Daqui a pouco, quando você achar que dá para continuar, você sobe e a gente continua. Se você achar que não está em condições, a gente deixa para outro dia.
Não tudo bem. Prefiro continuar. Assim a gente acaba logo com isso.
Quando você retornar, quero que você fale sobre as meninas que chegaram depois. Tudo bem.
Pode ser.