Eu havia sido transferido de seção na empresa onde exercia o cargo de escriturário.
Minha nova chefa era uma solteirona de seus quarenta e cinco anos e tinha um espírito jovial e afável em todos os momentos.
Ela me recebeu com carinho e me deu um abraço, mas tão forte que quase me machucou as costelas. Era esse seu estilo para nos deixar bem à vontade.
Cheguei ao escritório elogiando suas qualidades e até sua beleza, mas aí exagerei, pois não era assim tão bela, contudo também não era assim tão feia. Meio termo. Sua simpatia é que lhe encobria as desvantagens e dava-lhe uma tonalidade sensual.
Uma colega que escutou o meu excesso de galanteios, a mim se dirigiu e assim falou:
– Você mente descaradamente. Quer mesmo lisonjear a chefinha, não é?
E eu respondi:
– Você é que não entende mesmo de formosura.
Ela riu-se do meu entusiasmo:
– Dessa forma, não pretendo entender.
– Minha amiga! Imagine nossa chefa toda boazuda, cheia de balangandãs, linda, delicada, gostosona, porém insensível, desaforada e sem o mínimo de consideração, encarar-nos de cima para baixo, arrogantemente posuda. Pobres coitados. Agora, mude de posição e imagine a nossa Madalena, um tanto desajeitada, um tanto gorda, que não patenteia nenhum atrativo físico, despida de qualquer vaidade, irradiando calor humano, vendendo alegria e nos tratando por igual. Finalmente, qual das duas mais a seduz?
Ela fitou-me de outra forma.
– Deixe isso pra lá. Só fiz um comentário.
Mas, isso que aconteceu é só um detalhe.
Madalena aproximou-se, pegou-me pela mão e me conduziu ao local onde eu ia trabalhar.
– Seja bem vindo, querido.
Ah, Eu preferi mil vezes essa mulher!
Eis o mistério da beleza. Para uns é... não sei. Para outros... também não sei.
Mas é assim.
(Trecho do livro Contando histórias, a ser publicado no Clube de Autores)