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Contos-->MADRUGA TOUR -- 27/01/2015 - 16:25 (JOSÉ RICARDO ZANI ) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Temos o céu mais admirado do país, um pôr do sol que encanta turistas e um lago azul com 80 km de margens.



São privilégios mais do que suficientes para embelezar qualquer passeio.



Mas nossa alma aventureira, a curiosidade infantil e o ócio senil sempre pedem algo mais. Por isso, resolvemos percorrer Brasília depois que o Sol se vai e a Lua se impõe. Ver de cima da moto o que acontece quando a cidade adormece. Queremos conferir a assiduidade das luzes, a ambiguidade das sombras, percorrer o silêncio, decifrar a noite...



É com esse propósito que combinamos um passeio de moto a altas horas, a partir da ideia que Wellington deu há muito tempo.



É o nosso Madruga Tour.



Então, às 22 horas, eu, Vilson e Wellington partimos da Asa Norte pela W-3 e, em poucos minutos, as transformações da noite já são visíveis.



A avenida deixa de ser o endereço de repartições, bancos e lojas de carros, para se converter em quilômetros de passarela, onde garotas se insinuam na penumbra das marquises, em trajes sensuais e poses sugestivas.



Desfilamos no Eixo Monumental e, por breve momento, os três nos sentimos os Três Poderes da famosa Praça.



Mas mesmo nesse momento poderoso em que a Esplanada nos pertence, as conchas do Congresso ignoram o ronco de nossas máquinas -- certamente ocupadas em rastrear tramas e tramoias em seus subterrâneos.



Em contrapartida, "jaspions" que retornam do encontro no Guará nos saúdam alegremente, no anonimato de seus capacetes.



Na Ponte JK, o jogo de luzes e o cenário de cinema embalam nossa conversa noite adentro, entrecortada pela circulação de jipões que se concentram no encontro de jipeiros.



Mais adiante, no Pontão do Lago Sul, a decepção. O lugar público mais badalado do DF está fechado durante a madrugada. Ou não seria um lugar público?



Mais animada está a 403 Sul.



Na Pizzaria Molho de Tomate, tribos da noite fazem fila no balcão, de onde se ouve o alarido da moçada que bebe na vizinhança, em mesas improvisadas nos fundos do Piauí. A animação, entretanto, contrasta com as figuras depauperadas daqueles que perambulam em busca de uns trocados para repor o crack. Rodamos, conversamos e exploramos.



Transitamos como senhores das amplas avenidas e ecoamos o ronco dos motores pelos eixos desertos.



Confabulamos e rimos, tendo por testemunha apenas os monumentos.



Estudamos o sono das superquadras e vimos de perto a calada da noite, sob a qual Brasília dorme enquanto políticos mamam.



Mastigamos a pizza da 403, mas não engolimos as portas fechadas do Pontão.



Medimos a sedução da W-3 sem nos desviarmos de nossa rota.



Tentamos, enfim, perceber a capital com olhos de uma coruja turista que sobrevoa o maior foco luminoso do Planalto Central.



Esticamos até as 3 da manhã e deixamos aceso o desejo de voltar, porque há muito mais para percorrer e visitar.



Mas, para o primeiro passeio, rodamos bem e vimos muito.



Se a noite não foi farta em surpresas, foi generosa em belezas.



Dos arcos da ponte ao aroma dos pinheiros no Parque, passando pela brisa do Lago e pela pulsação noturna de alguns pontos, tudo foi atraente e gratificante.



Que venham outras madrugadas.


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