Quarenta e quatro anos depois o senhor Guilherme soube da verdade. O último capítulo da novela “Irmãos Coragem” transmitida em 1971 pela Rede Globo de televisão, trouxe uma cena impossível e ficou assim, por isso mesmo, embora cem milhões de pessoas, toda a população do Brasil, estivessem sintonizadas na tevê. Mas era fácil explicar:
“O herói da história, o João Coragem, lutou durante a novela para não perder um enorme diamante. Lutou tanto e no final, um dos seus irmãos e até a sua cunhada morreram baleados. E o que fez o herói? Ele fez o que fazem todos os super-heróis. Protestou contra a ambição humana e diante da população da cidade, reunida na praça central, libertou o seu cavalo, pegou um martelo comum e aos gritos, quebrou o diamante...”.
Em 2015, o senhor Guilherme soube pela internet que diamantes não quebram e depois concluiu também que para a novela fazer sentido, o João Coragem deveria ser um super-herói, pois somente super-heróis quebram diamantes entre tantas outras coisas impossíveis.
O senhor Guilherme esperava seu ônibus rumo ao bairro de Madureira, depois de um dia de trabalho, quando pensou novamente na novela de 1971 que parou o Brasil; o super-herói João Coragem além de quebrar o diamante, poderia ter dito muita coisa quando chegou à praça:
- A população do Brasil não pode mais ficar na saudade e suportar a miséria em que vive!
- Não haverá mais pobreza neste país!
O senhor Guilherme entrou em seu ônibus superlotado e ali dentro continuou com a história para o super-herói João Coragem; a cena do diamante aconteceria de uma forma um pouco mais extensa:
“O João Coragem libertaria as pessoas. Libertaria o brasileiro da pobreza... Naquela cena, o João Coragem poderia esmigalhar o diamante real e nas cenas seguintes surgiria doando os farelos preciosos para os que assistiam a novela...toda população do Brasil...
O senhor Guilherme ainda estava dentro do ônibus e daquela novela de 1971 quando concluiu:
- O super-herói somente libertou o cavalo.
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